SELF ESPORTE

Alimentos crus são a onda saudável do momento

por Greyci Casagrande

No início do ano, o chef norte-americano Allen Campbell ganhou notoriedade internacional ao divulgar, em entrevista ao portal Boston.com, que 80% do que come a família de Gisele Bündchen – incluindo ela – é de vegetais orgânicos e grãos.

Ao dividir opiniões, a dieta deles também expôs um conceito relativamente novo, complexo e do qual Campbell é adepto há anos: o raw food (comida crua, na tradução livre do inglês).

Superpopular nos Estados Unidos, especialmente na Califórnia – onde fica a principal escola de raw food do mundo, a Mathew Kenney Culinary – o movimento cresce cada vez mais no Brasil e é caracterizado pelo consumo de alimentos preparados até 42 ºC (até essa temperatura, o alimento não é considerado cozido).

Atrizes como Guilhermina Guinle, Giovanna Antonelli e Letícia Spiller já declararam seguir a dieta. A novidade é que o raw food tem saído dos consultórios de nutrição e invadido também a gastronomia. Por aqui, quem tem apresentado esse conceito, ainda que aos poucos, é a chef Gabriela Carvalho, do Quintana Café & Restaurante.

O primeiro contato dela com o crudivorismo, como também é chamado o raw food, foi em 2002, justamente na Califórnia, onde ela morou por quase dois anos. “Lá eu percebi que não é apenas um tipo de alimentação, é um estilo de vida”, conta.

 

Apressado não come cru
Mais do que uma tendência, Gabriela enxerga o raw food como uma necessidade que reflete “uma nova sensibilidade às nossas relações humanas com a natureza”. Segundo ela, a cozinha crua é fantástica, mas não é indicada para o dia a dia. “É complexa, demorada, cara. Não faz parte da nossa cultura”, acrescenta.

Mas engana-se quem pensa que comida crua é sinônimo de salada. Longe disso. Adeptos do raw food descobrem novas técnicas de preparo, como desidratação, germinação e fermentação. Processos demorados, complexos, mas pelos quais é possível obter alimentos com uma qualidade incrível, “resultados fantásticos de texturas, apresentação, sabor e de funcionalidade”, completa Gabriela.

Por muito tempo a chef produziu seu próprio chá verde e suas conservas (feitas apenas com a oxidação natural do alimento). No Quintana – que tem como berço a sustentabilidade aliada à cultura – ela oferece salada de tomates com broto de linhaça, suco orgânico de tangerina com clorofila e salada de grãos crus germinados.

Mas o caminho até o entendimento e a aceitação, segundo Gabriela, é longo. “Além de não fazer parte da nossa cultura, nosso organismo também não está adaptado a isso”, afirma. “Ainda assim eu preciso trazer essa informação para as pessoas”, defende.

 


Nem tudo são flores
Do ponto de vista médico, segundo Eliza Scarpin, nutricionista por trás dos sucos frescos e naturais do Tropical Banana, uma alimentação baseada em ingredientes crus é rica em fibras, vitaminas e minerais – que geralmente se perdem no cozimento. “Isso melhora a energia, a disposição e até o humor da pessoa”, garante.

O Tropical Banana, por exemplo, tem os chamados sucos vivos, onde frutas e verduras são centrifugadas. “É uma opção bacana para acrescentar esses alimentos no dia a dia”, afirma Eliza.

No Tropical Banana, os sucos vivos preservam os nutrientes das frutas e verduras e são opções práticas para o dia a dia.
No Tropical Banana, os sucos vivos preservam os nutrientes das frutas e verduras e são opções práticas para o dia a dia.

 

Outra empresa curitibana que trabalha com o conceito de raw food é a Fit Cookies. Graziele Zonta, proprietária da marca, explica que a iniciativa surgiu para criar um doce que fosse gostoso e, ao mesmo tempo, saudável, que conservasse os nutrientes.

A base é feita de coco fresco. Entre os complementos há cacau, amendoim, maracujá, limão, colágeno e whey protein – “que ajuda a sustentar a proteína”. São 12 sabores de doces funcionais que não vão ao fogo e, por isso, duram apenas sete dias se conservados na geladeira.

Seguindo a filosofia do raw food, os doces da Fit Cookies são produzidos sem nenhum tipo de cozimento e duram cerca de sete dias após abertos.
Seguindo a filosofia do raw food, os doces da Fit Cookies são produzidos sem nenhum tipo de cozimento e duram cerca de sete dias após abertos.

Por outro lado, alguns alimentos só se tornam benéficos quando cozidos. É o caso do tomate. Como esclarece Eliza, o licopeno contido nele é melhor absorvido pelo organismo quando o fruto é transformado em molho. Caso similar ao do feijão que, além de ser difícil de consumir cru, elimina no cozimento gases que são prejudiciais à saúde. Por isso, Eliza alerta que essa deve ser uma dieta complementar, não exclusiva.

Iracema Bertoco, professora do curso de especialização Cuisine Santé (Cozinha Saúde) do Centro Europeu e especialista em cozinha Diet & Light e Gastronomia Funcional, concorda. Para ela, manter uma dieta apenas de alimentos crus pode trazer prejuízos à saúde, como deficiência de zinco e vitamina B12 – que ocorre quando se consome fibras em excesso.

Adeptos da raw food também estão propensos a consumir muito mais agrotóxicos, microorganismos e parasitas. Por isso a recomendação de Iracema é optar apenas por alimentos orgânicos. Os cuidados com procedência e higiene dos alimentos também devem ser redobrados.

No universo raw food, ela enxerga muitas possibilidades. Confessa que passou a gostar mais do palmito fresco, lentilha e beterraba crua na salada e dá a dica: bolinhos feitos com grão-de-bico processado. “Não fica estranho”, defende.

Graduada em História e Cultura da Alimentação pela UFPR, a professora lembra que, mesmo após o homem ter descoberto o fogo, algumas culturas pregavam o consumo de alimentos crus. “Mas é a capacidade de cozinhar sua própria comida que nos difere de outros animais. Já se comprovou que cozinhar fez o homem ter uma vida mais longa”, conclui.

 

2 comentários em “Alimentos crus são a onda saudável do momento”

  1. Muitos erros nesta reportagem hein? Primeiro, risco de contaminação por agrotóxicos é maior em comida cua? Não, o risco é o mesmo, agrotóxicos não são eliminados pela fervura. Comida crua é mais cara? Não. Quanto à deficiência de B12, há diversos artigos que revelam que não é verdadeira esta afirmação. E quanto aos feijões, exceto o moyashi,próprio para germinação, outros não são utilizados no crudivorismo. Os grãos germinados nos fornecem muito mais nutrição e são altamente digeríveis, bem mais que grãos cozidos. O que nos diferencia de animais vai muito além de um simples cozinhar alimentos. “Já se comprovou que cozinhar fez o homem ter uma vida mais longa”, pode me dizer como se comprova uma teoria extreamente abstrata e cheia de vetores como esta? Das duas uma, ou você está inventando ou você desconhece o método científico.

    • Boa tarde Helena, como vai?

      É sempre bom ter um retorno das nossas reportagens. Enriquece o debate.

      Bem, o objetivo da matéria foi apresentar essa “tendência” e mostrar que ela também está sendo usada na alta gastronomia – como mostrou a chef Gabriela Carvalho, do restaurante Quintana – e não só nas dietas das celebridades. Realmente, sempre que vamos escrever sobre algo, a princípio, desconhecemos o assunto. Nosso trabalho é justamente buscar fontes para que nos ajudem a esclarecer o assunto a ser tratado. Nesta matéria, foram usadas quatro. Uma delas, Iracema Bertoco, é professora do curso de especialização Cuisine Santé (Cozinha Saúde) do Centro Europeu e especialista em cozinha Diet & Light e Gastronomia Funcional, graduada em História e Cultura da Alimentação pela UFPR. Ela afirmou que a alimentação exclusiva de alimentos crus aumenta sim as chances de se ingerir agrotóxicos. Informação que foi confirmada também pela chef Gabriela Carvalho, do Quintana. Não pelo fato deles serem eliminados no cozimento, pois não são, mas pelo fato deles serem a principal fonte de alimentação de quem vive exclusivamente de uma dieta raw food – a verdadeira, que não inclui carne animal. Quem consome mais vegetais e frutas consequentemente tem mais chances de ingerir agrotóxicos, infelizmente, independentemente do alimento ser comido cru ou cozido. Quanto à “comida cru ser cara”, o que Gabriela quis dizer foi que a “cozinha” crua, ou seja, trabalhar com esse tipo de dieta/alimentação é caro. Exige, além dos produtos orgânicos e de boa procedência (que ainda têm um custo maior), utensílios e equipamentos que custam caro, como desumidificador, desidratador etc. E, novamente, segundo a professora Iracema, a deficiência de B12 ocorre quando ingerimos muitas fibras. Adoraríamos ler esse artigo que você comentou, que prova o contrário. Mas lembramos que foi a informação dada pela nossa fonte, uma fonte com todas as credenciais que já citamos. Sobre o feijão, foi apenas um exemplo de tipo de alimento que não se inclui na dieta raw food – como você mesma disse. E, claro, muitos fatores nos diferem dos animais. A afirmação da professora vem para ilustrar a ideia que tanto ela quanto as outras fontes consultadas mantém, de que esta deve ser uma alimentação complementar, e não exclusiva – afinal, é disso que falamos na matéria. Que o homem pode usar e abusar dessa vantagem de poder cozinhar seu próprio alimento.

      Esperamos ter esclarecido e agradecemos o feedback.
      Atenciosamente,
      Equipe Top View

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