ESTILO

A trajetória de Nelson Mandela

A Top View visitou os pontos históricos que marcaram a história de Nelson Mandela na África do Sul.

Durante 27 anos, Nelson Mandela esteve preso por lutar contra o Apartheid, o vergonhoso sistema político que, até 1994, favorecia a minoria branca na África do Sul. Militante político, defensor da luta armada por um tempo, líder carismático, ganhador do Prêmio Nobel da Paz e primeiro presidente eleito democraticamente em seu país, Mandela tornou-se figura lendária ao renascer como exemplo mundial de paciência, liderança e dignidade durante os anos em que esteve preso. Seus irmãos de cor reconheceram nele o guia que os livrou de uma condição humilhante e ofereceu-lhes a cidadania na qual já não acreditavam.

Apelidado carinhosamente de Madiba pela nação – uma referência ao clã ao qual pertencia –, faleceu em 2013, aos 95 anos. Em 2016, seguimos seus passos e mergulhamos profundamente em sua vida – que se confunde com a história do país – em uma viagem à África do Sul e com a ajuda de um aplicativo eficiente, a Jornada de Madiba (disponível em iOS e Android), que refaz esse emocionante caminho das pedras. Passado, presente e futuro uniram-se nessa viagem de história, turismo e tecnologia.

Ilha Robben
Cidade do Cabo

Com a implantação do Apartheid em 1948, a ilha Robben, de onde se chega em meia hora a partir do porto do Waterfront, foi transformada em prisão de segurança máxima para condenados por crimes políticos. São alguns deles que fazem o tour contando histórias de horror político e racial, incluindo a convivência com Nelson Mandela, seu ocupante mais ilustre e que ali esteve por 27 anos.

Parlamento
Cidade do Cabo

Foi aqui que, em  fevereiro de 1990, o presidente Frederik Willem de Klerk anunciou a libertação de Nelson Mandela. Quatro anos depois, Mandela tomaria posse como primeiro presidente negro do país.

Ponte Nelson Mandela
Joanesburgo

A maior ponte estaiada do sul da África liga a parte antiga e a nova de Johannesburgo. Iluminada à noite com cores vivas, celebra a vida de Nelson Mandela.

Centro Correcional Drakenstein
Cidade do Cabo

Em 11 de fevereiro de 1990, Nelson Mandela e sua então esposa Winnie caminharam triunfantes para fora dos portões dessa prisão-fazenda localizada na hoje célebre zona vinícola de Cidade do Cabo. Foi aqui onde ele passou os últimos 14 meses de seus 27 anos de reclusão. Ficou em uma casa vigiada, cujo design mais tarde copiou para a construção onde iria morar, finalmente, em liberdade. É uma atração não oficial ligada à jornada de Madiba.

Constitution Hill
Joanesburgo

Mais do que a casa da Corte Constitucional da África do Sul, a Constituition Hill foi um complexo prisional centenário, onde estiveram presos vários líderes da luta pela libertação sul-africana em épocas distintas – entre eles Nelson Mandela, mineiros em greve, jovens presos no Levante do Soweto em 1976, até mulheres  que fabricavam cerveja ilegal. Entre os presos, até Mahatma Ghandi. Ele viveu em Joanesburgo durante anos. Foi nessa época que refinou sua consciência social e formulou o  Satyagraha: a filosofia de resistência passiva que o transformou de um advogado tímido a um líder extraordinário.

Local da Captura de Nelson Mandela
A 100 km de Durban

No dia 5 de agosto de 1962, a polícia perseguiu o carro que Mandela dirigia após sair de uma reunião com Albert Luthuli, presidente do Congresso Nacional Africano (movimento e partido fundado em 1940 para lutar pelos direitos da população negra). Nesse exato lugar, uma história de 27 anos de prisão e o nascimento de um novo homem começava. Uma escultura com enormes barras de ferro compondo o rosto de Mandela celebra essa história.

Estátua de Nelson Mandela na Union Buildings
Pretória

Uma estátua de Nelson Mandela diferente da maioria (em que ele estende os punhos em referência à luta) marca esse lugar. Madiba abraçando toda a nação é uma estátua inaugurada em frente à Union Buildings, edifícios que foram sinônimo do Apartheid e que, entre 1994 e 1999, abrigaram o escritório presidencial de Mandela em Pretória. Seu corpo foi velado aqui.

Museu do Apartheid
Joanesburgo

Como a África do Sul está fazendo as pazes com seu passado e transformando a cruel lembrança de uma nação que separava seres humanos pela cor da pela na possibilidade de um futuro pacífico: essa é a história que se conta no Museu do Apartheid. Já na entrada, o visitante é classificado de acordo com o tom da pele e direcionado à porta que o corresponde. Lá dentro, cenas fortes de um acervo multimídia – incluindo atentados e execuções –  revelam como era a vida sob o regime segregacionista.

Prefeitura
Cidade do Cabo

Foi do terraço da prefeitura (um edifício de arenito em estilo renascentista italiano) que Nelson Mandela falou a uma multidão calculada em 250 mil pessoas depois de finalmente sair da prisão. Depois de décadas detido, suas primeiras palavras em público assumiam o compromisso com a paz, a democracia e a reconciliação. No que foi considerado um dos discursos mais emblemáticos da história, ele disse: “Eu lutei contra a dominação branca e eu tenho lutado contra a dominação negra. Eu acalentei a ideia de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com igualdade de oportunidades. É um ideal que espero viver e alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”.

Fazenda Lilieslif
Rivonia

Neste local, ao norte de Joanesburgo, Mandela viveu escondido antes de ser preso, passando-se por um zelador chamado David Motsmayi. A fazenda era seu quartel general, de onde planejava a luta armada contra o Apartheid. Uma operação da polícia em julho de 1963 resultou no Julgamento de Rivonia, que acabou na prisão perpétua de membros influentes do movimento.Um dia após a sentença, partiriam de barco para a penitenciária da Ilha Robben, para juntarem-se aos poqos (terroristas) no ediício batizado de Makulukutu (em volta do líder).

Museu e Monumento a Hector Pierterson
Soweto, Joanesburgo

É um chocante tributo a um garoto de 13 anos morto pela polícia durante um protesto de estudantes, que estourou em 1976 contra a imposição do afrikaans (idioma derivado do holandês) nas escolas sul-africanas. Fica dentro do Soweto a mais emblemática township – área residencial para onde foram arrastados os negros durante o Apartheid, em zonas residenciais onde mal tinham energia elétrica ou sistema de esgoto.

Praça Nelson Mandela
Joanesburgo

A estátua de um Nelson Mandela de seis metros de altura domina essa praça repleta de lojas, shoppings, hotéis e restaurantes. Lugar seguro e confortável para fazer comprinhas de souvenirs. Passe no mercado para comprar vinhos maravilhosos (a partir de 12 rands), chocolate e outras delícias sul-africanas como o biltong – a típica carne seca que pode ser de animais de caça, springbok (antílope), avestruz ou vaca. Num dos cantos da praça, explore a badalada delicatessen The Butcher Shop & Grill e escolha os itens de sua preferência.

Rua Vilazaki
Soweto

Ao longo dos anos, as townships ganharam importância na herança cultural da África do Sul. A cerca de quilômetros do centro de Johannesburgo, Soweto foi lar de dois prêmios Nobel da Paz (Nelson Mandela e o célebre arcebispo militante Desmond Tutu). Depois da queda do Apartheid, as condições de vida melhoraram e o lugar passou a atrair turistas. Um passeio pela township revela pobreza, mas uma boa parte das pessoas já ascendeu à classe média. O colorido está em toda parte. Na mitológica rua Vilazaki, restaurantes fervilham com grupos de turistas e moradores saboreando pratos típicos como chakalaka (um molho apimentado de feijões e vegetais), ensopados de carne, purê branco de milho; jovens artistas apresentam números de dança e música; barraquinhas vendem lembranças e artesanato.

Praça Nobel e Waterfront
Cidade do Cabo

É no Waterfront (complexo de lojas, restaurantes e mercado na zona portuária da cidade) que estão as estátuas de quatro cidadãos sul-africanos  muito especiais: o ativista Albert Luthuli, o arcebispo Desmond Tutu, Frederik de Klerk (presidente da África do Sul de 89 a 94 e último branco a ocupar o cargo) e, claro, Nelson Mandela. Todos foram eternizados por terem ganhado o prêmio Nobel da Paz. Uma curiosidade “além Mandela”: Diamante de Sangue –  drama político e de guerra estrelado por Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou e Jennifer Connelly –  teve uma das cenas finais feitas no Waterfront. Com a Montanha da Mesa ao fundo, Jennifer protagonizou um dos momentos mais dramáticos desse filmaço.

Good Luck, Bokke!

Copa do Mundo de Rúgbi de 1995. No estádio Ellis Park, a África do Sul enfrenta a favorita Nova Zelândia. Antes de o jogo começar, um Boeing 747 da estatal South African Airways (SAA) voa baixo em Joanesburgo e, em manobra inesperada, passa por cima do estádio com a frase “Good Luck, Bokke” estampada em sua parte inferior. É um desejo de boa sorte à seleção da casa, conhecida como Bokke (diminutivo carinhoso para springboks, em referência ao antílope que nomeia o time). A surpresa no céu faz a torcida ir à loucura, emocionada. A partida começa em ritmo frenético e, de repente, aquilo que o então presidente Nelson Mandela havia planejado meses antes acontece: sul-africanos de todas as cores apóiam juntos a seleção nacional. Por trás da vitória dos Springboks, que se tornaram campeões mundiais, existe uma história tocante. A África do Sul iria sediar o principal torneio de rúgbi um ano depois que Mandela havia sido eleito presidente. Porém, em 1995, o cenário do país ainda contradizia os ideais de paz e união do novo líder sul-africano. O preconceito seguia predominante nas ruas e extrapolava nas arquibancadas, quando sul-africanos negros torciam claramente contra a própria seleção, formada por sul-africanos brancos e apenas um negro. Mandela viu aí uma oportunidade. Pede, então, para conhecer François Pienaar, o capitão do time, e, junto com ele, elabora um plano para unir a nação por meio de um dos esportes mais praticados no país. Enquanto trabalha conceitos de liderança com François e o time, Madiba lentamente convence os negros a torcerem pelos Springboks em nome do futuro do país. E eles seguem o conselho do líder! A imagem de Mandela, após o apito final, vestindo o boné da seleção e entregando o troféu ao capitão François, marca o jogo como um dos maiores símbolos da reunificação sul-africana e da era pós-Apartheid. Esse capítulo da história da África do Sul foi  também eternizado no filme Invictus, de  2009, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Matt Damon e Morgan Freeman. O estádio não está no aplicativo, mas ocupa parte nobre na jornada de Madiba.

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