CULTURA CINEMA

‘A pior pessoa do mundo’ é um dos melhores filmes que você vai ver em 2022

Indicado ao Oscar de melhor filme internacional e de roteiro original, a produção norueguesa acompanha a busca de uma jovem mulher por si mesma

A personagem feminina mais instigante no cinema nesta temporada de prêmios é, para mim, Julie, protagonista do norueguês A Pior Pessoa de Mundo, que deu à incrível Renate Reinsve o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 2021.

Indicado ao Oscar de melhor filme internacional e de roteiro original, o ótimo e inventivo longa-metragem de Joachim Trier (de Thelma) é, ao mesmo tempo, engraçado, comovente e, principalmente, muito provocativo. A história de Julie é dividida em um prólogo, 12 capítulos e um epílogo. Ao longo da narrativa, que transita entre a comédia e o drama, acompanhamos, por pouco mais de duas horas, a jornada da personagem em busca de si mesma, da pós-adolescência até os seus 30 e tantos anos.

Linda e inteligente, a personagem parece ter um futuro brilhante pela frente. Só que não! Primeiro, por conta de suas excelentes notas no Ensino Médio, ela ingressa na faculdade de Medicina, para descobrir, já nas primeiras aulas de anatomia, que não é o curso para ela. Muda então para Psicologia, que também não a satisfaz. Daí, resolve ser fotógrafa, mas acaba trabalhando em uma livraria. Nada a preenche completamente.

A vida sentimental de Julie não é menos atribulada. Por algum tempo, vive uma relação estável com Aksel (Anders Danielsen Lie), autor de
uma bem-sucedida série de quadrinhos – muitos anos mais velho que ela. Algo, no entanto, parece sempre estar fora do lugar, como se, como a própria protagonista diz, “ela fosse coadjuvante da própria vida, nunca a protagonista”. Essa sensação de inadequação, que pode ter a ver com a distante relação com o pai, a faz tomar atitudes questionáveis, como se estivesse sempre se autossabotando, e começando de novo.

Muito bem escrito e dirigido por Trier, que intercala momentos de leveza e outros bastante comoventes, A Pior Pessoa do Mundo é um daqueles filmes dos quais não se sai indiferente e nos faz pensar sobre nossas próprias vidas e escolhas, não importando se você é homem ou mulher. Mas, certamente, o público feminino vai se identificar muito com as dores e as delícias de Julie em sua procura por um lugar no mundo.

*Matéria originalmente publicada na edição #260 da revista TOPVIEW.

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