ESTILO

A expressão do tempo

No ramo da fotografia há 41 anos, Luciana Petrelli destaca suas imagens autorais como fragmentos de mundo transformados em vertigens

A fotografia é uma área que abrange vários estilos. Turístico, arquitetônico, erótico, moda, macrofotografia, jornalístico, natureza… a lista é enorme, mas, hoje, iremos falar sobre a fotografia contemporânea: o estilo escolhido por Luciana Petrelli para realizar recortes sensíveis e profundos da realidade. Com sua carreira na área fotográfica iniciando em 1979, Luciana começou produzindo materiais para jornais e participando da área cultural em grupos de teatro e dança. Foi aí que percebeu seu interesse pela construção da cena.

Integrante de diversos grupos de estudo, Luciana enxerga a fotografia como pesquisa e reflexão sobre a realidade do dia a dia. Desde 2015, faz parte do Núcleo de Estudos em Fotografia e Arte (Nefa) e do Coletivo 7Mulheres, um grupo plural que se afirma política e esteticamente em sua interação com o mundo. “O Nefa é composto por fotógrafos como eu, que vêm do analógico, e por outros fotógrafos que são mais contemporâneos, do digital. É um grupo heterogêneo, mas que conjuga as mesmas ideias de pesquisa. Já no Coletivo 7Mulheres, ficamos mais integradas, a gente se propõe a fazer projetos, como livros e editais”, conta ela.

2º Ato – Incertezas, da série Teatro sem Plateia

Um dos projetos produzidos pelos grupos são feiras de exposição, como a Feira Arte Foto, que acontece em Florianópolis (SC). O objetivo do evento, segundo Luciana, é aproximar a fotografia do público com uma visão mais genuína do que é a arte. “A importância dos nossos encontros é que, além de possibilitar um preço melhor, nós temos esse momento para falar da arte no mercado para pessoas que vão a galerias, mas não têm o olhar para investimento. A feira tem o intuito de apresentar a foto contemporânea produzida aqui a partir de pessoas que estudam, que têm uma história a partir do seu ofício, pesquisadores e pessoas que se dedicam à fotografia”, pontua a artista. Além disso, ela frisa que existem várias formas de apresentar uma fotografia, mas a melhor é fazer com que o público consiga compreender melhor essa área e como ter a fotografia para si mesmo.

Sem obrigatoriedade comercial atualmente, Luciana Petrelli se dedica ao ramo para recortar a realidade de modo 100% autoral. Com a pandemia, ela conta sobre um projeto “virado ao avesso”, como ela mesma intitula: o de fotografar a ela mesma na série Teatro sem Plateia. “Eu nunca tinha usado a fotografia como auto-interpretação, então comecei a expor o meu corpo, passei a ser meu elemento de trabalho. Isso me deixou bastante curiosa, porque foi um processo de ‘desavergonhar-me’ de mim mesma, desintensificar-me do meu tempo de corpo, já que tenho 61 anos, e, nesse processo, eu passei a ter uma aceitação psíquica ótima sobre mim mesma. Eu quero seguir fotografando a poética do que eu percebo da vida”, relata a fotógrafa, que, antes disso, buscava fotografar sempre “algo ou alguém.”

3º Ato – Revelações, da série Teatro sem Plateia

A fotografia é uma área que desperta sensações diversas, tudo depende de quem está fruindo-a. Quando questionada sobre seu propósito, Luciana conta que o ponto de partida para o seu trabalho é procurar fazer com que suas imagens falem de forma humana e sensível. Ela finaliza com uma reflexão – e um possível conselho: “Bom seria se, cada vez mais, as pessoas se aproximassem da arte e da cultura como expressão, porque todos os elementos que são produzidos a partir de uma boa ideia traduzem sentimentos em expressões diversas. Te tiram de um cotidiano superficial. Esse é um convite para que as pessoas, cada vez mais, se deem a oportunidade de sentar em um café com um amigo e falar de um livro que leram, de um filme que viram, de um show a que foram. A nossa sociedade colocou muita força no consumo e isso nos deixa muito ansiosos, com uma sensação de vazio.” 

*Matéria originalmente publicada na edição #242 da revista TOPVIEW. 

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