CULTURA ARTES

Bem-vindo à era de ouro da arte brasileira

Com a recente profissionalização, o mercado brasileiro de arte começa a decolar: o primeiro fundo de investimento espera obter valorização médica de até 500% em 5 anos

O ambiente de compra e venda de obras de arte no Brasil vem se mostrando extremamente favorável nos últimos anos. Não só pela quantidade e qualidade da produção artística contemporânea, mas pelo próprio amadurecimento desse mercado, que desde 2010 vem crescendo numa média de 22% ao ano, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), que avaliou o desempenho das principais galerias de arte do país. Artistas como Beatriz Milhazes – a pintora brasileira viva com a obra mais cara vendida em leilão: US$ 2,1 milhões – são cada vez mais cobiçados fora do país.

Dentre as obras mais valiosas da exposição no MUBE, estava Figo, gravura em papel de Beatriz Milhazes.
Dentre as obras mais valiosas da exposição no MUBE, estava Figo, gravura em papel de Beatriz Milhazes.

Enquanto o Brasil sofre com a instabilidade nos mercados financeiros e a queda na taxa de juros, a aposta no mercado de arte deixou de ser um mero hobby de milionários e tem virado opção rentável de investimento. Tal momento de efervescência fez surgir, há dois anos, o primeiro fundo de investimento em arte do país. O Brazil Golden Art é gerido pelo banco Brasil Plural, formado por Rodolfo Riechert (presidente) e Andre Schwarz (vice-presidente), ex-membros do alto escalão do Banco BTG Pactual, juntamente com Raphael Robalinho, do RR Capital, e Heitor Reis, braço curatorial do fundo, com 25 anos de experiência na direção de museus – dentre eles o Museu de Arte Moderna (MAM) da Bahia.

O fundo funciona nos moldes de um Private Equity, uma modalidade de investimento feito em empresas ainda não listadas em Bolsa de Valores, realizado por meio de contratos privados com a intenção de geri-las por um certo prazo. No caso do BGA, são cinco anos, sendo três de investimento e dois de desinvestimento, que será feito a partir de março de 2014. Em apenas 15 dias de captação o fundo conseguiu levantar R$ 40 milhões. As cotas ofertadas tinham valor mínimo de R$ 100 mil. O fundo foi fechado entre 70 cotistas, 90% oriundos do mercado financeiro – muitos deles já eram colecionadores.  “A arte brasileira vive hoje um momento excepcional. Isso vem crescendo de 12 anos para cá”, diz o curador Heitor Reis.

A estratégia do fundo é ambiciosa. Em três anos eles pretendem formar uma das cinco coleções de arte contemporânea mais importantes do Brasil. Hoje possui aproximadamente 700 obras de arte em portfólio, de 240 artistas. A meta é chegar a 800 obras.

Mas o que (ou quem) determina o preço de uma obra de arte? Segundo Reis, são basicamente as instituições e a crítica especializada que referendam um artista. “Também conta muito a trajetória do artista, a qualidade e a aceitação de sua produção.” Mas num mercado tão impreciso e, na maioria dos casos, subjetivo, investir em arte é atividade segura ou há riscos comparáveis a apostar em ações de empresas de capital aberto? “É muito difícil arte não dar resultados. Com base em pesquisas de mercado, de cem artistas monitorados, apenas dois tiveram desvalorização em dez anos”, afirma Reis.

Parte dessa confiança também vem do fato de que a coleção é composta por obras de artistas já consolidados, como Beatriz Milhazes (Figo), Adriana Varejão (Espelho D´Água), Henrique Oliveira (Máscara) e Angelo Venosa (sem título), mas também de uma parcela de artistas emergentes – estes sim, com potencial maior de valorização. “Claro que não existem negócios seguros, existem negócios bem-geridos.” Ele acredita que a média de valorização entre as obras de artistas consolidados e das “apostas” que compõem o portfólio pode chegar a impressionantes 500%.

Mas quem quer se aventurar investindo de forma independente está exposto a mais riscos. A compra de obras de arte exige tempo e trabalho: acompanhar o setor e a produção dos artistas, além de frequentar feiras e galerias. Sem esse conhecimento, pode-se levar “gato por lebre”. E é aí que o fundo leva vantagem, quando dispõe de curadoria especializada capaz de apontar quais artistas estão ou não em ascensão, além de executivos de gestão de capital.

Com dois anos de atividade, o BGA já tem servido de referência para outros fundos internacionais, com um de Luxemburgo, que se interessou pelo regulamento. Reis também adiantou que já existe um movimento de parceria com fundos na China e de outros países do Oriente que estariam interessados em navegar nessa maré favorável em que vive o mercado de arte brasileira.

*Matéria publicada originalmente por Alice Duarte na edição 156 da revista TOPVIEW.

Deixe um comentário