70´s
Nesta matéria, reunimos um conjunto de 10 edifícios residenciais que se tornaram importantes marcos da paisagem curitibana e que representam a cidade no imaginário de seus habitantes. Produzidos na década de 1970, eles consolidaram o movimento modernista paranaense. Um excepcional legado, de importância ainda pouco compreendida.
Edifícios de qualidade arquitetônica superlativa que assumiram orgulhosamente a linguagem arquitetônica de sua época, o que é fundamental para qualquer obra que se pretenda referencial e longeva, capaz de atravessar os tempos e manter-se contemporânea. Uma parceria saudável entre arquitetos e empreendedores sensíveis à qualidade arquitetônica da cidade que estavam construindo.
Algo muito diferente dos lamentáveis prédios autodenominados neo-clássicos, representativos da morte na arquitetura, ou de prédios decorativos, falsamente contemporâneos ou “modernosos”, que nenhum valor agregam à nossa cultura ou ambiente construído e que utilizam o rótulo de
modernos ou títulos passadistas apenas com objetivos mercadológicos.
Convidei novamente meu amigo, arquiteto, mestre e especialista em Estética e Filosofia da Arte pela UFPR, Fábio Batista, para me ajudar nessa tarefa. Sócio da Grifo Arquitetura e professor da FAE Centro Universitário, Fábio foi diversas vezes premiado e é autor de nove livros, entre os quais: Prédios de Curitiba (2017).
Boa fruição e leitura!
Os anos 70
Nos anos 1970, uma nova Curitiba nascia, tendo como premissa a escala humana e a qualidade de vida. Uma cidade que outrora era governada por engenheiros tem um arquiteto à frente do Palácio 29 de Março, Jaime Lerner (1937-2021), que coloca em prática a grande transformação almejada no Plano Urbanístico de 1965.
A Rua XV é pedestrianizada, são criados os parques Barigui, São Lourenço e Barreirinha. Mas a grande revolução surge na proposta de transporte público. São implantados os primeiros eixos estruturais: vias exclusivas para ônibus que conectam a cidade. Nelas, circulam os ônibus expressos, solução barata e eficiente que, posteriormente, é implantada em diversas cidades mundo afora. O centro se expande pelas estruturais, assim como
a construção de edifícios de grande altura, materializando o desenho proposto pelo Plano que alia o transporte de massa com a verticalização.
A preocupação com a qualidade de vida e o protagonismo dos arquitetos também se refletem nos edifícios projetados nesse período. A partir da seleção de 10 exemplares, é possível compreender algumas características mais relevantes:
RACIONALIDADE
Os edifícios possuem uma modulação estrutural que reflete na disposição dos ambientes internos e na composição volumétrica da fachada.
VALORIZAÇÃO DO PAVIMENTO TÉRREO
O pavimento térreo se caracteriza por uma área de transição entre o espaço público e a área destinada aos apartamentos. Nele, encontram-se áreas comuns do edifício e, em alguns casos, lojas comerciais voltadas para a rua.
TRATAMENTO DA COBERTURA
O projeto é pensado como um todo, inclusive as áreas técnicas presentes na cobertura, que são incorporadas na volumetria proposta no projeto.
QUALIDADE ESPACIAL
As plantas são generosas, assim como as esquadrias, e resultam em apartamentos espaçosos, arejados e bem iluminados.
*Matéria originalmente publicada na edição #256 da revista TOPVIEW.