A pluralidade da 3ª Design Days em Balneário Camboriú
Não podíamos deixar o mês de agosto acabar sem destacar a pluralidade da 3ª Design Days em Balneário Camboriú em Santa Catarina, que mais uma vez fez acontecer no único Desing District do sul do país – o CasaHall, inaugurado em 2017.
O texto foi criado juntamente com a assessoria de imprensa do evento e unimos a ele percepções e novidades que certamente irão lhe fazer pensar sobre o passado (ressignifcado), presente e futuro.
Foram três dias intensos e uma programação plural, marcada por oficinas, instalação de arte e palestras. Assim foi a 3ª edição da Design Days – única semana de design de Santa Catarina – , realizada entre os dias 14 e 16 de agosto, e que movimentou as instalações do CasaHall Design District, em Balneário Camboriú.
Nomes conceituados do mercado da arquitetura, arte popular brasileira e do design rechearam a programação e compartilharam seus feitos, a partir de exemplos concretos do que estão criando, desenvolvendo, cada um na sua frente de atuação.
Os destaques da 3ª Design Days
No primeiro dia, destaque para a participação da dupla do Furf Design Studio, Mauricio Noronha e Rodrigo Brenner, do Paraná – nossa capa de julho na TOPVIEW. Na apresentação, um apanhado das pesquisas que os profissionais vêm fazendo em busca de um design mais duradouro e ao mesmo tempo sustentável. No lugar do couro, por exemplo, os designers estão usando biotecido de folhas. O material é muito similar e tão resistente e durável quanto o couro bovino. É produzido pelo único curtume orgânico do mundo. “A manta de folhas é curtida, mas não se mistura a outros tipos de fibras, polímeros ou produtos químicos. Isso mantém a beleza visual, texturas e formas naturais da planta. Sem dúvida, material vegano inovador, desenvolvido no coração da floresta tropical no interior do Rio de Janeiro”, destacaram.
A história da Confete, peça premiada criada pelo duo em 2016, já foi contada por diferentes cantos, mas sempre surpreende. Não por menos, é o único produto com as três maiores premiações mundiais de design. A primeira capa de prótese de perna produzida em escala no mundo, conquistou o Best of the Best, no aclamado prêmio alemão Red Dot, o Leão de Cannes em Product Design e o iF 2018.
“Ela une uma inovação totalmente disruptiva com uma simbologia democraticamente compreensível. Hoje, ela é a opção mais acessível em 19 países, e no Brasil é gratuita pelo SUS e INSS. É um design inclusivo e não exclusivo”, ressaltaram os profissionais que trouxeram para a palestra o tema ‘Como desenhar o futuro’.
3º Design Days: a força do pós-luxo
Quem também prendeu a atenção do público foi Zizi Carderari, produtora visual e jornalista especializada em design e design têxtil. Há mais de 20 anos, como ela diz, entrou na casa dos outros seja por projetos pessoais ou editoriais para grandes veículos de comunicação e decor, como a revista Casa Cláudia. Na Design Days, Zizi veio falar sobre o belo trabalho que desenvolve com o Projeto Sertões, onde ela viaja por regiões do Nordeste brasileiro para conhecer in loco a arte popular, o artesanato mais genuíno. “O objetivo é ressignificar o uso da arte popular, trazendo-a para a decoração contemporânea”, pontuou a idealizadora o projeto.
O que destaca o regionalismo, tema que o pós-luxo vem abraçando desde seu início, o de valorizar o que é nosso, que tem origem comprovada e que há gerações faz parte do morar e vida dos brasileiros, que em certo momento ficou isolado e que agora volta ressignicando os conceitos de arquitetura e desing, principalmente ao olhar para o mercado de decoração e estilo de vida.
Outro tema destaque é o ‘Smart Cities’, que também esteve na pauta do evento, mais especificamente no segundo dia, e foi abordado pela diretora da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD), regional de Santa Catarina, Michele Pires, uma apaixonada e, não por menos, pesquisadora sobre o assunto. Durante sua explanação, Michele destacou alguns dos conceitos para a construção de cidades mais inteligentes, humanas e sustentáveis. Aliás, projetos de espaços urbanos com serviços de qualidade, de modo conectado e responsável é um dos grandes desafios da gestão pública.
“A cidade inteligente cria laços culturais que une seus habitantes, propicia desenvolvimento econômico e melhoria da qualidade de vida”, disse a designer de interiores.
O duo do Mula Preta – formado pelo designer André Gurgel e pelo arquiteto Felipe Bezerra, ambos naturais de Natal (RN) levou uma abordagem fluida para a 3ª Design Days. Os profissionais falaram sobre a história da empresa, a sinergia com o desenvolvimento de produtos, as inspirações e também a visão que ambos têm sobre o presente e o futuro do design no Brasil. “O país tem sido um exemplo de como seguir um caminho virtuoso nessa área, apesar de ainda muito espaço para crescer e expandir os horizontes. Um dos aspectos que para nós tem sido cada vez mais evidenciado é a importância que as grandes marcas e grifes tem dado ao regionalismo e à identidade particular de cada designer. Nós somos uma prova viva disso. A união de todas essas características, além de todo o cuidado com a sustentabilidade e o uso inteligente de materiais, dá uma identidade única ao “ecossistema” do design no Brasil e agrega um valor de identificação entre consumidor e marca”, explicaram.
Quanto ao futuro, segundo eles, segue o mesmo caminho, com uma ênfase do mercado cada vez maior para o apelo ao estilo de vida e o cuidado e atenção das pessoas para a maneira em que as coisas são feitas. Com as plataformas digitais o espaço é cada vez mais amplo e novos designers vão surgir com mais liberdade de expressão e criação, assim como a identificação do seu público que se tornará “curador” da própria casa. “O futuro é de aproximação entre criador e admirador, unidos pela tecnologia e com voz ativa para se firmar como único, e compor um universo cada vez mais bonito”, destacaram.
O encontro de design encerrou com a participação do arquiteto Guto Requena, que literalmente, tocou o coração e até mesmo instigou os presentes ao apresentar alguns exemplos do que o estúdio homônimo vem colocando em prática nos últimos anos. Tendo como norte a temática “Esculpindo Memórias: Design e Comportamento na Era Digital”, Guto falou sobre suas relações com novos modos de vida, que são a base para se entender os rumos do design, urbanismo e de comportamento nos tempos atuais.
“Temos que pensar no papel do design frente a iminente extinção da raça humana, ao avanço do ódio. O papel do design, na melhor definição, hoje, é resolver problemas. Por isso temos que experimentar e acreditar que nossos projetos podem despertar o ativismo que existe dentro das pessoas. Pode estimular propósito além da estética e da função”, destacou o arquiteto, que acaba de conquistar a premiação internacional Architizer A+Awards 2019 com o projeto ‘My heart beats like yours’.
Este foi um dos trabalhos trazidos por Guto para a palestra da Design Days 2019. O projeto que em português significa “Meu coração bate como o seu” é um trabalho interativo, de design ativista em prol da causa LGBT+ no Brasil, em grande escala, um híbrido de mobiliário público urbano e escultura, localizado na icônica Praça da República, em São Paulo. É um exemplo que une a tecnologia e a arquitetura urbana.
“As novas tecnologias são aliadas dos arquitetos. Temos que explorar a arquitetura híbrida – o que costumo definir como a mistura do analógico com o digital. Trazer a tecnologia para o mobiliário urbano, para um ponto de ônibus, ou mesmo uma praça pode estimular a empatia, empoderar, e adicionar novas camadas de poesia na sociedade. Este é o potencial do design na contemporaneidade”, finalizou o arquiteto.
A Design Days contou ainda com palestras de Marcelo Orlean, do designer Regis Padilha, da expert em WGSN Luiza Loyola, do arquiteto e designer catarinense Richard Gohr e da CEO da Lexus Groupe, Blanca Liane, à frente das ações da Pantone Color Institute no Brasil.
Instalação Múltiplos Transbordamentos
Quem visitou o semana de design catarinense teve ainda a oportunidade de conhecer a instalação Múltiplos Transbordamentos, um ‘site-specific’ na linguagem dos artistas, que nada mais que é do que uma obra pensada especialmente para o evento, neste caso a Design Days. O trabalho é resultado de uma parceria entre a jornalista Simone Bobsin, do Portal ArqSC, da artista visual Juliana Hoffmann e de Augu Alenc, responsável pela parte da sonora. A ação deu continuidade ao conceito de transbordar da 10ª edição do anuário ARQ SC, lançada no ano passado.
“A instalação é mais uma ação de transbordamento. O que queremos com isso? Queremos transbordar as áreas do conhecimento, que associam arquitetura, arte e outros campos, e também transbordar plataformas, a física, a digital, criar pontes, e conexões”, explicou a jornalista Simone Bobsin.
*Texto construído em sintonia com a jornalista Jana Hoffmann – Instagram: @janahoffmann_.