100 anos de rigor arquitetônico
Neste ano de comemorações de centenário de nascimento de Rubens Meister — grande arquiteto modernista responsável por obras que se confundem com a imagem da própria cidade e se tornaram referência na paisagem cultural e construída de Curitiba —, convidamos o arquiteto e teórico Fábio Domingos para homenagear o artista. Não é possível, porém, deixar de sublinhar a extrema importância da preservação deste acervo insubstituível, que, muitas vezes, é desrespeitado pelo próprio poder público, como no caso das incompreendidas fachadas do elegante prédio racionalista da sede da Prefeitura Municipal de Curitiba, no Centro Cívico. Fachadas originalmente brancas e cegas, desfiguradas por meio da instalação de um duvidoso mural “artístico”, que não consegue esconder seu verdadeiro objetivo. Enaltecendo obras da própria prefeitura, como os lamentáveis “Faróis do Saber”, com suas ridículas torres ou minaretes, que nunca serviram para nada. Enfim, um patrimônio ameaçado, que deveria ser tombado e preservado, como proteção contra interferências desabonadoras.
Boa fruição e leitura!
A Curitiba moderna de Rubens Meister
No dia 31 de janeiro de 1922, nasceu, em Botucatu, o filho de Albino e Ignez Meister. Por sorte do destino, o casal não se fixou na cidade paulista, retornando ao Paraná quando o filho ainda era bebê. Dessa forma, Curitiba ganhou um de seus maiores arquitetos: Rubens Meister. Aqui, ele cresceu, cursou o primário no Colégio Bom Jesus, o secundário no Ginásio Paranaense e, em 1943, ingressou no curso de Engenharia da Universidade do Paraná, atual UFPR. Em 1943, venceu, com o colega Romeu Paulo da Costa, o concurso de projetos para o Panteão dos Heróis da Lapa. No mesmo ano, projetou a Casa do Pequeno Jornaleiro, instituição voltada para meninos pobres. Em 1948, um ano após a sua formatura, foi classificado em 3o lugar no concurso de projetos para o Teatro Oficial do Estado, escolhido em 1952 pelo governador Bento Munhoz da Rocha Netto para ser construído em comemoração ao Centenário de Emancipação Política do Paraná — o teatro passou a se chamar Guaíra.
Casa Renaux, o Grupo Escolar Tiradentes, a antiga Estação Rodoviária, a Prefeitura Municipal, o Teatro da Reitoria, o Edifício Barão do Rio Branco, o Edifício Avenida, a Sede e o Teatro do Sesi/Fiep, a Celepar e o Centro Politécnico da UFPR — ajudaram a materializar a paisagem moderna que Curitiba tanto desejava, no período em que não havia no estado um curso de Arquitetura.
Ele também é autor da Rodoferroviária, do Sesc da Esquina e da requalificação do Palácio Avenida, um dos principais pontos turísticos da capital. As obras de Meister romperam as fronteiras de Curitiba e podem ser vistas em cidades do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Meister também foi um dos fundadores do primeiro curso de Arquitetura do Paraná, na UFPR, e foi professor catedrático no curso de Engenharia da mesma instituição. Rubens Meister se formou engenheiro, mas foi a vida toda um arquiteto. Ele é autor de mais de 450 projetos, confeccionados ao longo de 60 anos de profissão. Em janeiro, ele iria comemorar 100 anos de idade.
Fábio Domingos Batista é arquiteto formado pela UFPR (1997), mestre pela UFSC (2007) e especialista em Estética e Filosofia da Arte pela UFPR (2010). Ainda, sócio da Grifo Arquitetura e professor da FAE Centro Universitário. Atualmente, está cursando doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Sua pesquisa tem como tema o Rubens Meister.