#amazontrip: o mais importante teatro brasileiro é o Teatro Amazonas
Quando eu visitei Paris pela primeira vez lembro que cheguei pela Gare du Nord, à noite. Aquela cidade não parecia Paris, mas sim qualquer outra cidade da Europa. Na manhã seguinte, ao pegar o trem urbano que depois de uma curva me fez avistar a ponta da Torre Eiffel e os fundos da catedral de Notre Dame, eu parecia ter sido levado imediatamente para o cenário de um filme. Aquela mistura de realidade e ilusão me confundia e a presença destes tão fortes símbolos da cidade me confirmava: estou em Paris. Mas afinal, e Manaus? E o Teatro Amazonas?
Ah, sim! Manaus é a Paris dos trópicos! No livro Viagem a Portugal, quando José Saramago fala dos canais de Aveiro – a Veneza portuguesa – ele afirma que qualquer comparação de uma cidade com a outra é uma forma de subjugar ambas. Portanto Manaus é Manaus! Não é Paris, nem Londres. Não é Buenos Aires.
Mas a comparação se justifica pela forma como os edifícios e símbolos urbanos impactam nossas lembranças. Ao chegar à Manaus, nossos olhos buscavam a cúpula do Teatro Amazonas. Quando o carro virou em uma esquina e todo o fundo da rua foi preenchido pelas cores verde e amarelo da cerâmica que reveste a cúpula do Teatro, confirmamos: estávamos em Manaus. Para o republicado Eduardo Ribeiro – primeiro governador eleito do Amazonas e um dos idealizadores do Teatro – garanto que essa associação é um grande elogio, pois por insistência dele a cúpula foi revestida com as cores da bandeira nacional e motivo de acirrada discussão na época por, à vista dos mais conservadores, descaracterizar o edifício neoclássico com referências europeias. Eduardo Ribeiro ainda solicitou aos engenheiros que projetassem a famigerada cúpula de maneira que, amarrada, a estrutura do edifício jamais pudesse ser removida sem comprometer a edificação do teatro como um todo.
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Os barões da borracha, importante ciclo econômico da região no final do século XIX, fizeram do Teatro Amazonas uma verdadeira vitrine social. Ser visto, assim como nas nossas atuais redes sociais, era quase que mais importante que o próprio espetáculo que se apresentasse no palco naquele início de século. Os camarotes nos pontos mais altos do teatro eram os que tinham maior valor de venda e as frisas frontais eram leiloadas minutos antes do espetáculo pois são os lugares onde melhor poderia se exibir jóias, vestidos e companhias. No entanto, hoje em dia estes são os lugares menos prestigiados pois oferecem a pior visualização do palco.
Com o início da construção em 1882 e término em 1896, o Teatro já foi inaugurado com o uso de energia elétrica para iluminação. Os seus 701 lugares tinham cadeira originais com assento em palha da Índia para facilitar a ventilação interna do espaço. Além disso, na época, os espetáculos eram apresentados com as portas e janelas abertas devido ao calor excessivo da cidade, no entanto o barulho das carruagens que circulavam sobre o pavimento de pedra ao redor da construção atrapalhava a apresentação dos espetáculos. Para resolver tal problema, paralelepípedos de borracha – o látex dos seringais da região – foram instalados no piso das áreas próximas ao Teatro. Hoje pode-se ver alguns destes blocos ainda existentes na parte de trás do edifício.
Restaurado em 1990, o Teatro Amazonas tem os assentos de suas cadeiras em veludo francês que substituiu a desgastada palha da Índia. Sua cortina é original do início do século passado e traz na sua pintura o desenho dos símbolos da nova república que se descortinava para o futuro.
Localizado no Largo de São Sebastião, o Teatro Amazonas realmente domina a paisagem e está em um dos pontos mais altos do Centro Histórico, o que faz com que possa ser visto de vários lugares da cidade. Um verdadeiro símbolo urbano. Se pelo lado de fora a construção impressiona pelo seu tamanho e pelo rebuscamento dos seus acabamentos e detalhes a parte interna do teatro não deixa a desejar. Madeiras nobres brasileiras no mobiliário, cristais e mármores italianos nos lustres e revestimentos de pisos e paredes fazem do teatro um verdadeiro palácio para atender os anseios de uma sociedade que no início do século XX sonhava em construir uma cidade europeia em plena floresta amazônica.