Os tratamentos para rejuvenescer a pele são eficazes? Especialistas explicam
A promessa de uma pele regenerada “de dentro para fora” tem levado muitos pacientes e até profissionais a apostarem em substâncias que ainda não têm ampla comprovação científica. É o caso dos exossomos e do PDRN (polidesoxirribonucleotídeo), fortemente divulgados nas redes sociais como parte da chamada “nova era da medicina regenerativa”. Mas, apesar da popularidade, o uso clínico dessas substâncias ainda não é regulamentado e carece de evidências robustas de eficácia e segurança. “O entusiasmo em torno das terapias regenerativas é compreensível, porque a ideia é fascinante: restaurar as funções celulares e retardar o envelhecimento. Mas, até o momento, os estudos clínicos em humanos são escassos e de desenho limitado. A ciência básica, em laboratório, é promissora, mas isso ainda não significa resultado comprovado no consultório”, explica o dermatologista Dr. Marco Alexandre Dias da Rocha, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP), que abordou o tema durante a 30ª Reunião Anual dos Dermatologistas do Estado de São Paulo (RADESP), evento ocorrido em São Paulo nos dias 14 e 15 de novembro.
CONFIRA: Baby Bleph: jovens na faixa dos 30 anos adiantam cirurgia nas pálpebras para renovar o olhar
De acordo com o especialista, as terapias regenerativas são um campo em expansão dentro da Medicina, com estudos que vêm sendo conduzidos desde a década de 1960 e que ganharam força nas últimas décadas. “A ideia é que, ao restaurar funções perdidas das células, seja possível não apenas melhorar a aparência da pele, mas também postergar o surgimento de doenças relacionadas ao envelhecimento. A ciência básica mostra isso de forma consistente em culturas de células e modelos animais. Agora, o desafio é demonstrar esses resultados em humanos”, pontua o Dr. Marco.
Os exossomos, pequenas vesículas extracelulares responsáveis pela comunicação entre células, e o PDRN, molécula derivada do DNA do salmão, são duas dessas estratégias estudadas. “Ambas vêm sendo testadas há décadas em diferentes áreas médicas, com resultados experimentais interessantes, como aumento da produção de colágeno, melhora da cicatrização e da elasticidade tecidual. Mas os estudos clínicos em humanos ainda são raros, com resultados inconsistentes e amostras pequenas”, observa o Dr. Marco, que destaca que, no futuro, essas substâncias podem eventualmente ser integradas a protocolos combinados com terapias já consolidadas, como bioestimuladores, microagulhamento e lasers fracionados. “A ideia é que estratégias regenerativas associadas a estímulos clássicos, já muito bem comprovados em dermatologia, possam fornecer resultados de maior eficácia para os pacientes. É essa busca exata que estamos vivendo neste momento”, complementa.
LEIA TAMBÉM: A pele das celebridades: mitos e verdades sobre a suplementação de colágeno
O especialista ressalta, no entanto, que a falta de evidência clínica sólida reflete diretamente na ausência de regulamentação. “Nenhum produto à base de exossomos ou PDRN possui registro aprovado na Anvisa para uso injetável. A maioria é apenas notificada como cosmético, o que significa que, legalmente, só poderia ser usada de forma tópica. O uso injetável, portanto, é irregular”, afirma. De acordo com o Dr. Daniel Cassiano, diretor da SBD-RESP, apesar da falta de regulamentação e evidências, muitos desses produtos são usados de maneira injetável atualmente e, inclusive, têm sido cada vez mais buscados pelos pacientes, que são impulsionados por resultados vistos nas redes sociais, celebridades e influenciadores. “Mas é importante ressaltar que o uso não é isento de riscos. O uso indevido, inclusive em procedimentos que aumentam a absorção, como o microagulhamento, pode gerar reações adversas e expor o profissional a risco legal”, alerta o médico.
É importante ressaltar que a intenção não é vetar essas inovações, mas aguardar o momento certo para que elas possam ser incorporadas de forma segura. “Toda nova abordagem terapêutica precisa amadurecer cientificamente antes de chegar ao consultório, com evidências sólidas e aprovação das agências reguladoras”, explica o Dr. Daniel Cassiano. Segundo ele, discussões como essa são essenciais para promover o uso ético e seguro de novos procedimentos. “Vivemos um momento de avanço rápido, em que produtos chegam ao mercado antes de serem plenamente estudados. A dermatologia precisa manter o compromisso com a segurança e a ciência. O entusiasmo é positivo, mas deve vir acompanhado de senso crítico e de respeito à regulamentação”, completa o Dr. Daniel Cassiano.
A discussão sobre exossomos e PDRN integrou a programação científica da 30ª RADESP, um dos maiores congressos de dermatologia do país, que aconteceu nos dias 14 e 15 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. O evento reuniu especialistas de todo o Brasil para debater os principais avanços da área, incluindo novas abordagens terapêuticas, atualizações em cosmiatria e tecnologias aplicadas à dermatologia clínica.