ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Madeira clara ou escura? Dicas para escolher o tom ideal para compor ambientes

Da luz ao contraste, cor da madeira influencia percepção, harmonia e identidade no design de interiores

Escolher a tonalidade da madeira de um móvel ou até mesmo do piso, das paredes ou do forro do teto não é só uma decisão estética: é uma escolha capaz de transformar a atmosfera de qualquer ambiente.

Do frescor das madeiras claras ao aconchego dos tons mais escuros, cada nuance desperta sensações diferentes e interfere diretamente na forma como percebemos luz, profundidade e caráter do espaço.

Em um momento em que o morar contemporâneo valoriza a autenticidade, entender essas variações proporcionadas naturalmente pelos materiais se torna fundamental para compor interiores mais equilibrados e expressivos.

“O tom da madeira tem grande impacto na atmosfera de um ambiente. Madeiras claras tendem a trazer leveza e uma sensação de frescor contemporâneo. Já os tons mais escuros proporcionam elegância e uma linguagem mais clássica, ainda que também sejam muito presentes no modernismo brasileiro. A mistura equilibrada de tonalidades, no entanto, costuma resultar em espaços mais naturais e atemporais, com maior riqueza sensorial”, explica o designer de mobiliário Felipe Zorzeto.

O impacto da cor na construção da atmosfera

Em ambientes pequenos ou com iluminação natural limitada, as madeiras claras costumam refletir mais luz, criando uma sensação de amplitude e suavidade. Já os tons escuros absorvem mais luminosidade, resultando em atmosferas acolhedoras e sofisticadas.

No entanto essa divisão (clara = leve; escura = elegante) não é a única nem a definitiva. A tendência atual no design é justamente explorar contrastes, sobreposições e diálogos entre materiais.

“Madeiras claras funcionam bem em ambientes descontraídos, leves e com estética mais contemporânea. Tons escuros, por sua vez, reforçam projetos mais formais, elegantes e com maior presença. Ainda assim, não considero isso uma regra absoluta, muitas vezes o contraste ou a inversão dessas expectativas gera resultados muito interessantes”, analisa Zorzeto.

Isso porque a madeira, mais do que um acabamento, é um elemento vivo no projeto. Ela dialoga com o projeto arquitetônico, com a luz e até com a personalidade do morador — e é esse diálogo que define qual é a melhor escolha para cada contexto.

No estúdio de Zorzeto, por exemplo, as variações da madeira freijó (natural, mel, café e ebanizado) permitem criar diferentes leituras de uma mesma peça. Essa versatilidade é especialmente valiosa para quem busca móveis personalizáveis e capazes de se adaptar a diversos estilos de interiores.

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“O freijó é naturalmente versátil, com um tom levemente amarelado e textura que transmite calor e naturalidade. A definição de ebanizado, no nosso processo em particular, se refere a um tingimento profundo do freijó até atingir um tom próximo ao preto. Ele assume uma linguagem mais marcada, sem perder o desenho característico das fibras da madeira”, explica o designer.

Assim, um mesmo mobiliário pode assumir uma expressão leve e radiante quando feito em freijó natural, ou ganhar profundidade e protagonismo quando produzido em freijó ebanizado. Essa amplitude estética faz com que o material apareça tanto em projetos minimalistas quanto em interiores clássicos ou contemporâneos.

Como escolher o tom ideal para cada peça

Ao contrário do que muitos imaginam, a escolha da madeira no design autoral não é determinada apenas pela estética final desejada. Hoje, processos criativos consideram temas como disponibilidade de materiais, possibilidades de personalização e a relação emocional do usuário com o mobiliário.

Esse olhar flexível e abrangente permite que cada peça dialogue com diferentes propostas de interior, compondo ambientes que vão do jovem e descontraído ao sofisticado e contemplativo.

“Para criar, não parto de uma única tonalidade como premissa. Gosto de desenvolver peças que permitam personalização, valorizando tanto a disponibilidade dos materiais quanto o desejo de quem específica ou adquire o móvel. Recentemente, passei a usar a madeira sucupira em detalhes específicos, combinada com o freijó, que pode ser produzido dentro de suas quatro em quatro tonalidades diferentes, criando contrastes ricos e expressivos usando nuances de madeira diferentes”, exemplifica Zorzeto.

Módulos do Buffet TIÃO mesclam a estrutura robusta em sucupira com a leveza das lâminas de freijó. Design por Felipe Zorzeto. Projeto: Marcella Schiavoni. (Foto: Isadora Costa)

O diálogo entre diferentes materiais

A escolha entre madeira clara ou escura muda também quando o móvel combina diferentes materiais. A presença de tecidos, pedras ou metais altera completamente a leitura da peça e pode direcionar o projeto para uma estética mais suave, mais marcante ou mais contrastada. Segundo Zorzeto, não há uma regra única.

Buffet PALAFITA em Freijó Mel. (Foto: Isadora Costa)

“Não existe um padrão rígido. Cada material conversa de um modo particular com a madeira, e cada projeto pede uma solução própria. O importante é buscar harmonia e intenção — seja por contraste, continuidade ou textura”.

Nesse sentido, tecidos naturais, como linho, algodão e bouclê, tendem a suavizar madeiras escuras, enquanto pedras robustas ou metais escuros dão força e profundidade às madeiras claras. A chave, segundo o designer, é sempre a intenção.

Escolha técnica ou emocional?

Em projetos de interiores, a decisão pelo tom de madeira costuma nascer de duas forças complementares: a coerência estética do espaço e a personalidade de quem o habita. Enquanto a arquitetura dita proporções, iluminação e estilo, é o morador que imprime vida e identidade.

No fim, escolher entre madeira clara ou escura é menos sobre regra e mais sobre intenção: o que se quer sentir ao estar ali?

“Um bom projeto equilibra a coerência estética do espaço com a personalidade e sensibilidade de quem o habita. Madeiras têm alma e precisam refletir tanto o contexto arquitetônico quanto a história de quem vive ali”, conclui Zorzeto.