SPFW N60: FOZ transforma memórias de infância em poesia
Em seu quarto desfile no São Paulo Fashion Week, o estilista Antônio Castro, à frente da marca FOZ, abriu o baú das lembranças e mergulhou em suas memórias de infância para criar “Povoado Poesia”, uma coleção lírica inspirada em Atlântida — a lendária cidade perdida. O resultado é um desfile que mistura fantasia, afetos e o olhar poético do criador sobre o amadurecimento e as raízes do Brasil profundo.

“Quando criança, meu filme preferido era Atlantis – O Reino Perdido. Hoje percebo que sigo em busca de mundos escondidos — lugares remotos, onde o tempo parece parar e a cultura popular pulsa viva”, conta o estilista.
O encerramento de uma trilogia
“Povoado Poesia” encerra uma trilogia iniciada por “Alambique Fantasia” (2023) e “O Conto de Laura” (2024) — um conjunto de narrativas pessoais que costuram lembranças e experiências do diretor criativo. Neste capítulo final, Antônio revisita o universo lúdico da infância, marcado pela solidão, pela imaginação e pelo refúgio na arte.

O estilista explica que foi na escola, entre o coral e o teatro, que descobriu o poder de criar outros mundos. “Esses momentos de fantasia e desconexão me permitiram viver novas realidades. Povoado Poesia é como um álbum desse período”, diz.
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Um vilarejo imaginário e real
Inspirado pelo realismo fantástico, Antônio constrói um “não-lugar” que mistura lembranças, referências culturais e o inconsciente coletivo do interior do Brasil. Assim como Macondo, de Gabriel García Márquez, ou Tocaia Grande, de Jorge Amado, o “Povoado Poesia” é uma vila inventada — onde casas são feitas de pano, peixes voam e chapéus têm três cabeças.

As cores, intensas e quase infantis, reforçam esse olhar onírico: azul bic, amarelo canário, verde pistache, roxo e laranja vibrante se combinam em estampas maximalistas e jacquards exclusivos, borrados como lembranças que se confundem entre sonho e realidade.
Artesanato como narrativa
O universo visual da coleção é tecido pelas mãos de dezenas de grupos artesanais que colaboram com a FOZ, vindos de diferentes regiões do país. Entre os destaques estão as bolsas de palha de ouricuri do grupo Pontal Art, de Coruripe (AL), e os bordados das mulheres do Mimos de Dona Peró, de Capela (AL), com monstrinhos e figuras híbridas inspiradas em desenhos medievais.

Outros grupos, como as bordadeiras de Entremontes (AL), as redeiras de São Pedro (RS) e as artesãs da Nossa Singeleza, de Marechal Deodoro (AL), completam o repertório de técnicas e histórias que permeiam a coleção. Cada ponto, trançado ou costura carrega um fragmento da cultura popular brasileira — e o olhar sensível de quem faz arte com as próprias mãos.
Cenografia e parcerias
O cenário do desfile foi assinado por Thiago Almeida e teve como destaque uma casa inteiramente feita de tecidos bordados, criada a partir de um projeto exibido originalmente na mostra A Casa Bordada, do Museu da Casa Brasileira.
A passarela, por sua vez, foi composta por tapetes da marca Tapetah, inspirados em imagens aéreas do Rio São Francisco e desenvolvidos em parceria com a FOZ — uma colaboração que será lançada comercialmente após o SPFW.

O desfile da FOZ aconteceu na sexta-feira, 17 de outubro, às 18h30, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.