SELF SAúDE

A importância de lembrar do seu sorriso

Durante o tratamento de uma doença, muitos pacientes negligenciam a saúde bucal e isso pode custar caro

As vendas de medicamentos como Ozempic, Wegovy, Mounjaro e Zepbound não param de crescer. Em 2024, segundo a pesquisa The Weight is Over: How GLP-1 Treatments are Reshaping Pharma and Beyond, da Allianz Trade, houve um aumento e 92% na compra dessas soluções.

Indicados para o tratamento de diabetes, as medicações também são efi-cazes para o emagrecimento. Embora os resultados sejam aparentes no corpo, esses remédios escondem, à primeira vista, alguns problemas bucais.

Nós, profissionais da odontologia, estamos lidando com um fenômeno classificado como “Boca de Ozempic”. Boca seca, inflamação na gengiva, sensibilidades nos dentes, cárie, mau hálito, refluxo e até dificuldades na fala são algumas das queixas que podem ser observadas por pacientes que fazem uso dessas medicações. Isso pode aconte-cer porque as medicações alteram a característica da flora bucal, levando à redução da saliva, que desencadeia os problemas citados.

Claro, isso é tratável! Quando um paciente apresenta essas condições, eu indico aumento da hidratação diária, mudança do creme dental para opções que contenham mais flúor e ampliem à
proteção aos dentes e, também, uma série de reposições com nutrientes, a fim de fortalecer o organismo. Outra solução é o uso de pastas que substituem e estimulam, artificialmen-te, a produção de saliva.

Pacientes com câncer

Os tratamentos quimioterápicos também podem ter um impacto negativo na saúde bucal. É comum que os pacientes apresentem mau hálito, sangramento e o desenvolvimento de cáries. Isso porque a quimioterapia e a radio-terapia, frequentemente combinadas para tratar pacientes com câncer, reduzem a produção da saliva. Somado a isso, os pacientes também apresentam redução na imunidade, que amplia o risco de infecções e inflamações na cavida-de bucal.

Uso de Roacutan

Muito comum na dermatologia para tratamento de acne severa, o Roacutan também pode afetar a saúde bucal. O medicamento comumente causa ressecamento dos lábios, redução na produção de saliva, mau hálito, aparecimento de cáries, gengivite (inflamação na gengiva) e aftas. Além disso, ele pode interferir nos proces-sos de cicatrização no corpo — o que impacta tratamentos odontológicos como extração dental e aparelhos ortodônticos.

Medicamentos como Ozem-pic e Mounjaro podem cau-sar mau hálito, secura bucal, sensibilidade nos dentes e, até, dificuldades na fala.
Medicamentos como Ozem-pic e Mounjaro podem cau-sar mau hálito, secura bucal, sensibilidade nos dentes e, até, dificuldades na fala. (Foto: Stefamerpik | Freepik)

Sinais

A atenção à saúde bucal pode, inclusive, ajudar os pacientes a identifi-car precocemente algumas condições de saúde. Listo as situações mais comuns encontradas no dia a dia dos consultórios odontológicos:

Riscos de derrame

Ao realizar uma radiografia panorâmica, recomendada para extração de dentes ou colocação de aparelhos fixos, os profissionais podem detectar depósitos de cálcio na artéria carótida do paciente, que pode elevar o risco de derrames ou problemas cardíacos.

Problemas cardiovasculares

Além da identificação de riscos de desenvolver problemas cardíacos por meio de radiografia panorâmica, os dentistas diagnosticam condições inflamatórias, como gengivite e periodontite. A frequência dessas condições pode indicar problemas cardiovasculares, porque as bactérias presentes na região bucal podem entrar na corrente sanguínea e afetar as funções cardiovasculares.

Condições gastrointestinais

Com a avaliação da região bucal, os dentistas podem alertar os pacien-tes sobre doenças como doença de Crohn, refluxo gastroesofágico ou doença celíaca. Isso porque a persis-tência de mau hálito, aftas, defeitos no esmalte dentário e cáries podem ser um indicativo de problemas no trato gastrointestinal.

Transtronos alimentares

Mau hálito, dentes sensíveis, desgaste no esmalte dentário, aumento das glândulas salivares, hematomas no céu da boca e aumento das glân-dulas salivares denunciam transtornos alimentares. Os dentistas podem ajudar os pais e responsáveis a identi-ficar casos de anorexia e bulimia em pacientes menores de idade, sobre-tudo em adolescentes — e a agirem rapidamente para tratar.

Saúde mental

Ao detectarem sintomas de bruxismo (dores e estalos na mandíbula, desgaste dentário, trincas no esmalte dentário
ou fraturas nos dentes), os dentistas podem orientar os pacientes quanto à saúde mental. A condição está ligada
a estresse, ansiedade e até a doenças neurológicas, como Parkinson.

Saúde bucal é sinal de saúde corporal

A boca também tem a capacidade de alertar o corpo de outros problemas físicos. Isso porque ela é a porta de entrada para o nosso corpo. Se o paciente apresenta mau hálito persistente, por
exemplo, pode indicar problemas gástricos ou intestinais. Aftas frequentes e sangramento na gengiva também estão ligados à baixa imunidade. Inflamações na boca podem desencadear ou agravar doenças coronárias, diabetes, enxaque-ca e até câncer.

A negligência à saúde bucal pode, ainda, aumentar o risco de parto prematuro. A placa bacteriana pode alcançar a corrente sanguínea e se alo-jar no útero e na placenta,
causando inflamação e contrações, que adiantam o parto. Essa situação agrava a saúde da gestante e dos bebês, levando, inclusive, ao óbito.

5 passos para uma saúde em sintonia

Para manter a saúde bucal e manter o corpo em boa sintonia, os pacientes devem:

1. cuidar da higiene bucal
2. manter a hidratação
3. escolher uma dieta equilibrada
4. frequentar periodicamente o dentista
5. informar o dentista sobre as medicações pontuais e de rotina

Se você apresentar qualquer sinal de que algo não está bem em sua saúde bucal, busque imediatamente um especialista de sua confiança.

*Matéria originalmente publicada na edição #304 da TOPVIEW.