Michel Temer fala sobre o valor da moderação em entrevista exclusiva
Com a experiência de quem conhece os bastidores do poder, o ex-presidente Michel Temer propõe um novo rumo para a política no Brasil em 2026: menos radicalismo e mais diálogo. Em entrevista exclusiva ao Grupo Ric, ele ainda falou sobre Lula, Bolsonaro e Ratinho Jr.
O Brasil tem hoje uma boa condução?
Há alguns equívocos na condução atual. O que existe no Brasil não é polarização de ideias, é radicalização de posições. O que é péssimo. Tenho falado sobre a hipótese de que as próximas eleições não sejam de nome contra nome, mas de programa contra programa.
O que o senhor pensa sobre os governadores na corrida eleitoral?
Tenho conversado, porque os governadores me procuram. São jovens e preparados. Suponho que, ao longo do tempo, vão se unir e talvez elaborem um programa. Como de outra parte, seria útil, se você tiver um grupo dessa natureza, depois tiver outro… já imaginou escolher entre programas? Seria uma evolução estupenda!
Existe uma costura com os possíveis candidatos à presidência?
Não houve, pretensiosamente, uma costura. Cada governador me procurou. Primeiro foi Ratinho Júnior, depois, Caiado, Zema, Tarcísio, Eduardo Leite e Riedel. Não sei se estão dispostos a fazer uma coisa coletiva. Vai depender das circunstâncias, mas, se estiverem unidos, será uma força extraordinária.
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Há direita sem a figura central de Bolsonaro?
Tenho rejeição aos rótulos. Ser de esquerda, direita, centro é coisa que caiu com o Muro de Berlim. Esses conceitos subsistem para efeitos eleitoreiros. Você vai ao sujeito que está passando fome e pergunta para ele: “Você é de centro, direita ou esquerda?” Ele quer pão. Vai ao desempregado? “Quero emprego.” Vai ao empresário? “Quero financiamento, não um tributo.” As pessoas querem resultados. O país está começando a se preparar para que a moderação prevaleça.
Como o senhor avalia o julgamento sobre tentativa de golpe? O sr. aconselhou Bolsonaro sobre Alexandre de Moraes?
Ele (Bolsonaro) me procurou e eu disse: “Você precisa ser humilde. Não ser agressivo, porque não vai te ajudar.” E ele, de fato, foi muito humilde. E digo: o ministro Alexandre foi muito próprio, muito oportuno. Ele levou aquilo com uma tranquilidade extraordinária. E olha que é um momento difícil, mas ele levou com uma tranquilidade estupenda. O que revela, digamos assim, um viés de estadista do próprio Alexandre de Moraes.
Como o senhor recebeu a declaração de Lula de que escolheu Alckmin por ser um vice de confiança, que não daria golpe?
Coitado, eu tenho pena dele, viu? Pena porque sei que fala isso da boca para fora. Sei que fala isso para agradar a alguns setores do PT. Porque ele sabe o que eu fiz no governo. Um dia, ele disse que eu destruí tudo o que o PT fez. E tanto ele falou que eu fui obrigado a lançar uma nota. Eu disse que, de fato, destruí tudo o que o PT havia feito. Ou seja, eu destruí os juros altos e a inflação alta e fiz reformas fundamentais para o país. De fato, destruí tudo o que o PT fez, mas, se foi golpe, até tomei a liberdade de dizer, foi golpe de sorte, porque o país cresceu no meu governo.
*Matéria originalmente publicada na edição #303 da TOPVIEW.