A conexão entre arte e arquitetura
Em tempos de concreto e aço, ainda acredito na leveza, no etéreo, no espaço convidativo. Sou artista — mas também construo sonhos, atmosferas. Passo horas arquitetando efeitos, detalhes e planos. A arte integra. Ela chega, escolhe se fica. Altera a energia, vibra, contamina.
Notre Dame
A história revela que a relação entre arte e arquitetura sempre foi íntima. Tomemos como exemplo minha obra Notre Dame. A catedral, uma obra-prima gótica do século XIV, com seus arcos ogivais, rosácea central e simetria rigorosa, carrega elementos que são estruturais — mas também simbólicos, quando adquirem novos aspectos.
E aí acontece a transformação, quando o tijolo e a pedra se traduzem em “cor”. O aspecto sanguíneo, dado pela cor profunda junto aos relevos suaves, subverte sua característica de edifício rígido,
concreto, sólido — e dá lugar a uma obra etérea, contida em permissões e licenças poéticas. Suas margens sugerem um mergulho em um mar de confetes, em que a imensa massa fl utua. É assim que arte e arquitetura dialogam, compensam-se, igualam-se.
Dourado

Quando o ouro envelhece e revela sua alma. Aqui se vê uma lenta dissolução da matéria. As folhas de ouro — levíssimas, frágeis — se fundem às texturas, à areia, ao relevo quase visceral. Ocorre então uma alquimia silenciosa: o que era banal se transforma em densidade, espessura; o frágil, em resistência.
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A força da arte comprime o que era descartável, simples, em algo estrutural, metálico, duradouro. Como um fragmento de algo rico, valioso. Esse ouro, tradicionalmente associado ao sagrado, aqui brilha escuro, arranhado — como uma estrutura corroída, uma fusão. Torna-se vestígio do que foi precioso na base, para revelar uma fachada urbana, uma favela.
Dourado e verde

Outro exemplo de construção: este suporte, oxidado pelo ouro, recebe uma invasão, uma agressão, uma forma estranha. Um ser volumoso se apossa da estrutura. Estabelece-se uma simbiose entre o “corpo” e seu apoio, fundindo-se. O resultado é uma forma do universo — uma galáxia, o infinito contido na tela.
Obra Deslizativa
Por Juarês Mater

Leveza, dinamismo, movimento, experiência, estética, gestos, beleza. Vejo que a arte na arquitetura transforma os espaços e cria uma atmosfera acolhedora e humana.
Os gestos presentes nos traços artísticos conversam diretamente com a precisão da arquitetura. É uma troca. Um sustenta o outro, como em um casamento entre liberdade e estrutura. Minha arte carrega a energia do universo do skate e da linguagem urbana. A caligrafia urbana é parte da identidade visual que trago para cada obra, como nessa composição: traços intensos, ritmo, fluxo e contraste. Procuro materializar essas impressões gráficas da cidade em peças que integrem ambientes arquitetônicos, criando não só uma composição visual, mas uma experiência viva, urbana e artística.
*Matéria originalmente publicada na edição #303 da TOPVIEW.