ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Desenhar espaços para emocionar e desaparecer: o futuro do design emocional

Banff e as Corridas como refúgio: natureza, turismo esportivo e design emocional inspirando espaços de bem-estar e luxo contemporâneo

Em tempos de hiperconexão e estímulos constantes, surge um desejo cada vez mais profundo de desaparecer, encontrando o silêncio que virou refúgio. Esse desaparecer não é sumir do mundo, mas silenciar a pressa, a cobrança, o ruído, e abrir espaço para sentir.

O luxo contemporâneo se revela não mais na opulência, mas na emoção. No detalhe que toca, no espaço que acolhe, no objeto que fala à memória. Vivemos a era do design emocional — um conceito que, mais do que tendência, se tornou bússola para arquitetos e designers que entendem que provocar sentimentos profundos é o maior diferencial de um projeto. E é eterno.

Esse design não se limita à estética. Ele atravessa o olhar e alcança o sensível. É uma arquitetura que escuta, um mobiliário que conforta, uma paleta cromática que abraça. É o fato de se sentir em casa, mesmo quando se está longe. O ser tocado por algo que não precisa ser dito.

Uma poética mais íntima

Quem já observou este movimento, como as marcas de luxo que estão assinando SPAs pelo mundo, sabe que o contato direto com a natureza nos inspira a criar experiências que nos tirem do automático, e que isso nos devolve formas de sermos saudáveis, de cuidarmos do corpo, mente e alma.

Por outro lado, há quem encontre o mesmo senso de silêncio e presença absoluta ao se lançar em uma maratona ou até em uma ultramaratona. O turismo esportivo, que movimentou mais que US$ 1 trilhão em 2023 segundo dados globais, e que deve chegar a mais de US$ 2 trilhões até 2030, revela o quanto as pessoas buscam os esportes. E não é por competir, mas sim pelo treino constantemente até chegar a competição, que nada mais é do que deixar de pensar em tudo para se concentrar em algo.

Observe que os dois momentos nos levam a abraçar uma poética mais íntima. A função continua, mas os espaços passam a curar.

Do invisível ao inesquecível

O design emocional é também uma resposta ao cansaço sensorial contemporâneo. Com a automatização das interações, o consumidor deseja algo mais: uma experiência sensorial e simbólica que o reconecte com ele mesmo. E é aí que entram as soluções personalizadas, os materiais com alma, os detalhes imperfeitos e únicos que precisam dialogar com estilos de vida fluidos, oferecendo aconchego e estímulo, pausa e fluxo.

O design, quando pensa em espaços e objetos, precisa se inspirar nessa dualidade: como podemos criar refúgios que acolham a pausa e, ao mesmo tempo, estimulem a potência vital de quem os habita? Como podemos desenhar ambientes que nos convidem a desaparecer do ruído para reaparecer melhores?

Essa será, possivelmente, a próxima grande fronteira do luxo contemporâneo (se já não é): não apenas proporcionar beleza, mas oferecer um porto seguro para a reconexão. Um lugar onde possamos praticar a presença, o comprometimento com nós mesmos, o cuidado profundo.

LEIA TAMBÉM: Grife de artigos para casa estreia na França com pop-up store no Le Bon Marché

A emoção, nesse sentido, deixa de ser adorno para se tornar estrutura. E o desaparecer, tão necessário neste tempo veloz, passa a ser entendido como valor. Porque, no fim, não é sobre sumir: é sobre sentir. E trazer de volta a força para continuar.

Sumir é tendência: o design do desaparecimento

Se o luxo contemporâneo se expressa na emoção, ele também se encontra no direito de sumir. Sumir do ruído, sumir da superexposição, sumir até de si mesmo para se reencontrar. Viajar para um retiro, cruzar fronteiras para correr uma maratona, ou simplesmente se perder em paisagens monumentais são maneiras de redesenhar a própria mente — e, por consequência, nossa relação com os espaços em que vivemos.

Neste momento, escrevo de Banff, no Canadá, um dos parques nacionais mais celebrados do mundo. Aqui, rodeado por lagos de tons turquesa, montanhas recortadas pelo tempo e trilhas que parecem meditar em silêncio, percebo com ainda mais clareza que a natureza continua sendo a grande mestra do design emocional. Ao caminhar por essas paisagens, entendo que formas orgânicas, paletas minerais e texturas naturais não são apenas bonitas: elas tocam nossa biologia, nossas memórias ancestrais, nos devolvem sentido e serenidade. Ela nos devolve serenidade e nos lembra de onde viemos — e, principalmente, o que precisamos levar adiante. Ela nos ensina a desenhar espaços para emocionar.

O reencontro

Seja na contemplação de um lago cristalino ou no suor de uma linha de chegada, ambos os caminhos nos convidam a romper com o estresse cotidiano, com a fragmentação mental, com a dispersão.

Essa conexão entre natureza, esporte e saúde amplia o conceito de luxo emocional para além da estética. Ela redefine experiências: não basta um espaço ser bonito, ele precisa nos convidar a respirar, a sentir, a expandir. Precisamos de ambientes que nos façam experimentar o mesmo frescor que sentimos diante de um lago glacial ou de uma linha de chegada cruzada com suor e orgulho.

Em Banff, percebo que a geografia, a escala das montanhas e a potência da natureza oferecem lições que podem — e devem — inspirar arquitetos e designers para que criem para todos. A fluidez dos rios, a luz mutante do céu, a textura viva das florestas são códigos universais que nos lembram o que nos emociona de verdade. E que, traduzidos para o projeto de uma casa, de um hotel ou de um objeto, podem nos dar a mesma sensação de pertencimento e encantamento que sentimos ao “sumir do mapa”.

Para onde vamos?

O futuro do design emocional, portanto, vai além de projetos autorais e materiais nobres. Ele abraça a experiência humana como um todo: corpo, mente e território. Estamos testemunhando uma geração que quer viver de forma intensa, saudável e significativa — seja em um spa de luxo, seja numa ultramaratona em outra latitude. Espaços e objetos devem ser capazes de acompanhar esses estilos de vida em constante mutação, oferecendo aconchego, energia, pausa e movimento.

No fim, sumir não significa desaparecer, mas sim reencontrar-se. E talvez esse seja o maior luxo que podemos desejar — e projetar — nos próximos anos, e a natureza é a maior fonte de inspiração, por isso precisa ser cuidada e preservada.

Deixe um comentário