Viajar para servir
Tem gente que faz as malas por vontade de se encontrar. Tem gente que viaja para se perder. Marcos Slaviero viajou para servir — e, de quebra, encontrou um pedaço novo de si. O empresário e influencer trocou o conforto de Curitiba por uma realidade desafiadora no interior do Quênia, onde passou dez dias realizando trabalho voluntário com crianças em comunidades carentes. A motivação veio de um desejo antigo. “Sempre tive vontade de ir para a África. E foi muito engraçado, porque nunca batiam as datas, nunca dava para eu ir. E a forma como eu cheguei lá, em 2019, foi muito engraçada. Foi em um papo na academia.”

Naquele dia, ele ouviu de um amigo fotógrafo que ele partiria para o continente africano na semana seguinte. Ele embarcou com um grupo de voluntários ligados à ONG curitibana Endeleza e ao
projeto “Criança que Dança”. “Eu acabei indo de uma hora para a outra, mas super me entrosei com a turma”, relata.
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Hospedados em um orfanato, os voluntários visitavam comunidades diferentes a cada dia. “Quem sabia dançar, dançava; quem sabia ensinar inglês, ensinava; quem sabia fazer qualquer outro tipo de atividade que envolvesse esse mundo infantil, lúdico, fazia.” Marcos dava aulas, brincava e ajudava como podia. Antes de doar, ele precisou abrir mão em uma nova realidade. “Quando a gente abriu o banheiro, ele não tinha chuveiro — era um balde de água.”

Em um dos dias mais marcantes da viagem, a chuva veio para dar resposta à sede. “Eles pegavam um prato de sopa, fundo, e coletavam a água que caía do telhado. (…) Era uma água suja de terra e eles tomavam aquela água desesperadamente.” A cena gerou comoção e mobilização. “Criamos uma vaquinha na internet e, em menos de uma semana, arrecadamos R$ 60 a 80 mil. Conseguimos construir uma cozinha completa para eles lá”, conta.
Voltar foi difícil. Mas Marcos voltou diferente. “Me lembro que, quando eu estava lá vendo toda aquela escassez de comida, jurei para mim mesmo que nunca mais ia encher meu prato sem ter certeza de que conseguiria comer tudo.” A consciência hoje é diária.
A experiência no Quênia aguçou outro desejo: o de atuar com comunidades ribeirinhas na Amazônia. “Sei que quero fazer esse voluntariado lá em algum momento. Ainda não sei quando vou conseguir ir, mas estou deixando o destino trazer para mim.”
*Matéria originalmente publicada na edição #302 da TOPVIEW.