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O futuro é alfa

A maior geração da história chega com novos desafios para a sociedade e o mercado

EM 2025, A Geração Alfa, formada por indivíduos nascidos entre 2010 e 2025, passa a ser a maior geração da história, com uma projeção de 2,5 bilhões de indivíduos, de acordo com um relatório da WGSN e Meio&Mensagem. Além de quantitativamente expressivos, os Alfas também são qualitativamente únicos. Como a primeira geração integralmente nascida no século XXI e consolidados como os primeiros “hiperconectados” da história, eles prometem transformar os paradigmas sociais, culturais e econômicos.

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A era da conexão

“Essa geração não aprendeu a conhecer o mundo pela interação face a face, mas, sim, por meio de dispositivos digitais,” explica o sociólogo Leonardo Campoy. Isso não significa que sejam menos capazes de se comunicar, mas, sim, que desenvolveram formas diferentes de socialização. Isso, segundo o sociólogo, pode gerar uma aceleração no desenvolvimento de certas habilidades, como, também, pode prejudicar outras capacidades, como a concentração e a paciência. Enquanto as gerações anteriores focavam interações presenciais e lineares, os Alfas possuem uma habilidade ímpar de lidar com múltiplos estímulos simultaneamente.

Essa hiperconexão é, ao mesmo tempo, um ponto forte e um desafio. Segundo Campoy, “é fundamental evitar patologizar comportamentos diferentes apenas por desconhecimento. Muitas das características que consideramos ‘problemas’ são, na verdade, adaptações à era digital”. Em um mundo repleto de diagnósticos, como TDAH e autismo, é crucial discernir entre transtornos reais e as especificidades comportamentais dessa geração.

“Enquanto essa geração defende princípios sustentáveis, o comportamento consumista entra em conflito com esses ideais.” – Daniel Poit

Consumo e sustentabilidade: um paradoxo

A crescente preocupação com questões ambientais destaca-se como um diferencial da Geração Alfa. “Eles têm sensibilidade ambiental porque sentem na pele as mudanças climáticas e são educados desde cedo sobre o tema,” aponta Campoy. Esse compromisso com a sustentabilidade deve, cada vez mais, moldar as indústrias nas próximas décadas. Apesar disso, os Alfas também vivem um paradoxo em relação ao consumismo. O economista Daniel Poit observa que, “enquanto essa geração defende princípios sustentáveis, o comportamento consumista entra em conflito com esses ideais.”

Essa contradição fica evidente no mercado infantil, que movimenta 16 bilhões de reais anualmente no Brasil, crescendo 14% ao ano, segundo o SEBRAE. A facilidade de acesso às tecnologias e a exposição intensa à publicidade desde cedo alimentam o desejo por novidades, gadgets e produtos personalizados. Isso coloca os Alfas em uma posição de destaque, tanto como consumidores conscientes quanto como protagonistas de padrões de consumo que desafiam a sustentabilidade.

Além disso, o comportamento dessa geração reflete mudanças profundas na relação com o consumo. “Há cinquenta anos, um garoto de classe média tinha um tênis, um chinelo e um sapato. Hoje, a variedade e a quantidade de bens consumidos são muito maiores,” afirma Poit. Essa disparidade reflete uma realidade global que combina maior disponibilidade de produtos com uma cultura de hiperconsumo, muitas vezes em detrimento de práticas sustentáveis. Ainda assim, o potencial de transformação da Geração Alfa é enorme. A educação ambiental, aliada à tecnologia, pode incentivar o desenvolvimento de soluções inovadoras para questões como desperdício e reciclagem. Nesse sentido, empresas que investirem em práticas transparentes e alinhadas aos valores dessa geração têm maiores chances de sucesso em longo prazo.

Decisão de compra

Mais de 88% dos pais relatam que são influenciados pelos filhos em decisões de compra, segundo dados do Instituto Locomotiva, de 2019, o que reflete o papel ativo dos Alfas como consumidores indiretos, mesmo antes de alcançarem a maioridade.

Com as novas configurações familiares que acompanham o desenvolvimento dessa geração, os Alfas assumem papéis mais ativos dentro de casa. Em famílias menores, com 2,74 pessoas por lar, em média, segundo o IBGE, as crianças e adolescentes não são mais apenas coadjuvantes, mas protagonistas das tomadas de decisão.

Essa influência precoce os torna mais conscientes e responsáveis. O levantamento do WGSN explicita que 61% dos jovens ficaram mais preocupados com a saúde dos familiares após a pandemia, o que reflete uma maturidade emocional rara para a idade.

Impactos no mercado de trabalho

Os Alfas ingressarão no mercado de trabalho em 2030, mas com um detalhe importante: 65% das profissões que ocuparão ainda não existem. Segundo Daniel Poit, isso exige que o sistema educacional invista em habilidades como criatividade, dominação tecnológica e articulação.

Segundo o especialista, as instituições e as famílias precisam compreender melhor essa geração e se preparar para um futuro que já começou: “Investir nos jovens Alfas é investir no próprio futuro, garantindo que eles se tornem protagonistas de um mundo mais equilibrado e justo.” No entanto, essa preparação tende a ser cada vez mais desigual. “Os jovens de boas escolas terão mais oportunidades, enquanto aqueles das periferias continuarão enfrentando desafios no aprendizado”, alerta Poit.

Convivência intergeracional

Com o aumento da expectativa geral de vida, os Alfas compartilharão o mundo com o maior número de gerações simultâneas da história. Essa convivência trará desafios, como conflitos de valores e comportamentos e, também, oportunidades para trocas enriquecedoras.

Um exemplo é a influência de figuras como Greta Thunberg, que transcende gerações e inspira tanto jovens quanto idosos. “Os Alfas podem ensinar às gerações mais velhas a navegar no mundo digital, enquanto aprendem com elas valores e histórias que ajudam a construir identidade e propósito”, ressalta Campoy.

*Matéria originalmente publicada na edição #296 da TOPVIEW

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