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Marcelo Bergerson: o homem que faz nossos olhos brilharem

Em entrevista exclusiva ao TOPVIEW Journal, o dono de uma das mais importantes joalherias brasileiras fala da trajetória da marca e compartilha suas gostos

Foi em um início de semana, pela manhã, na casa onde fica seu escritório, que Marcelo Bergerson recebeu a TOPVIEW. A pontualidade e o dia em que o bate-papo aconteceu mostram a seriedade com que o empresário, à frente da famosa marca de joalheria curitibana, encara o trabalho. E isso é de longa data. Aos 15 anos, Marcelo já teimava em ficar na empresa com seu pai, que insistia “vai estudar” e o incentivava a fazer medicina. Mas não foi assim. Como office boy no empreendimento do pai, ele aprendeu os detalhes dos negócios, alicerce para que a família fundasse a Bergerson em 1964. Formado em Economia pela FAE, Marcelo está à frente da Bergerson e da Big Ben desde 2008. E, aos 59 anos, com lojas na capital, em Londrina e Maringá, e também em Joinville (SC) e Porto Alegre (RS), comanda atualmente uma das cinco maiores redes joalheiras do Brasil. Conversamos com Marcelo sobre a trajetória de sucesso por trás das marcas, a paixão por diamantes, seus pequenos prazeres – e até comida árabe e Linkin Park.

TOPVIEW: Em que contexto nasceu a Bergerson?

Marcelo Bergerson: Meu pai chegou da Polônia sem uma profissão, com 12, 13 anos. Iniciou a carreira trabalhando com meu avô, que montou um comércio na Tiradentes. Era o Bazar Beatriz. Por alguma razão, meu pai resolveu ter uma vida profissional própria e começou a trabalhar na Joalheria Woller, na Galeria Tijucas, encarregado de serviços gerais. Até que em um determinado momento, para ajudar o relojoeiro, ele começou a trabalhar em modelos maiores, como despertadores. Depois, foi convidado por um amigo que abriu uma relojoaria na Rua XV de Novembro para ser vendedor. Meu pai permaneceu ali durante um tempo, depois decidiu empreender. Foi quando começou a consignar mercadoria no atacado de São Paulo e trazer para cá. Com uma lambreta, ele visitava os quartéis e as escolas, que eram duas categorias bem remuneradas naquela época. Alguns professores e militares diziam que faltava um pouco de privacidade, por isso, em 1958, ele comprou uma sala no edifício Minas Gerais, na Rua XV. Essa sala comercial é nossa até hoje.

TV: Em 2008, quando seu pai faleceu, você assumiu uma empresa já consolidada e bem-sucedida. Que características pessoais e profissionais o ajudaram na hora de assumir os negócios?

MB: Em uma joalheria, ou você tem uma relação de plena confiança com o estabelecimento ou você se perde. Não existe espaço para brincadeira, para meia seriedade, para falta de transparência. Eu me coloquei um pouco nesta situação, um dia desses, quando fui comprar tapetes orientais. Eu não tenho conhecimento sobre [o assunto], então me vi sentado na frente do dono dessa loja e simplesmente ele me fala os preços e eu confio. Me coloquei no lugar do nosso cliente: se você está comprando um diamante, como fica?

TV: Como a imagem séria e honesta deixada por seu pai ajudou a Bergerson? Sua gestão é marcada por quais características?

MB: Sem dúvidas meu pai deixou estas marcas [seriedade e honestidade], mas sem dúvidas também atualizamos tudo isso. Não existe uma joalheria que viva apenas de tradição e confiança. Anos atrás a joalheria era muito voltada para um legado de família, era feita para os grandes momentos. De muitos anos para cá, que coincidem um pouco com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a joia passou a ser também um acessório de moda. Neste momento, passamos a pesquisar, pois a Bergerson ainda é uma joalheria de peças autorais. Toda a propriedade intelectual das joias e a execução das peças é feita dentro da casa: temos um núcleo de quatro pessoas, entre desenvolvedores de produtos e designers. Todas as peças da marca são inspiradas em algo. E essa história é contada. Para ter uma ideia da importância que isso tem para nós, o primeiro cliente a ter contato com as coleções novas são os nossos gerentes. A partir daí é que começam a vender. Se você entende o produto, se conhece sua história, sabe vender.

TV: E a Big Ben foi criada com qual propósito?

MB: No começo dos anos 1970 se tornou moda alianças de prata e paládio – e não de ouro – com esmeralda, safira e rubi. Não sei se era uma febre nacional, pois na época nós nem tínhamos velocidade nas informações. Só sei que aqui “pegou” de uma maneira incrível. Era mais econômica. E aí veio o dilema: como a Bergerson iria entrar em um produto “B”, já que queríamos o “A”? E então meu pai teve a ideia de montar a Big Ben. Como os produtos mais econômicos não conviviam bem com as marcas internacionais [como a Rolex, da qual a Bergerson é parceira de longa data], montamos uma operação exclusiva para este tipo de produto.

TV: O curitibano tem um perfil particular no consumo de joias?

MB: Sim, a ponto de nós sermos joalheiros da região Sul. As pessoas perguntam por que não expandimos, mas como impomos a joia para alguém que mora em Manaus da mesma forma que vendemos em Curitiba? São hábitos, culturas diferentes. Por isso nos especializamos regionalmente.

TV: E você tem joias preferidas?

MB: Diamantes. Sou apaixonado. Cometo uma gafe profissional horrível, pois sou o comprador de diamantes da empresa. Mero prazer. Eventualmente compro pedras e quando elas chegam aqui, meus gestores comerciais dizem: “Marcelo, é lindo, mas nós vamos vender isso para quem?”. Não deveria ser assim. Mas juro, diamante é um negócio que me tira do sério. Eu gosto de outras tantas pedras – turmalinas paraíbas são espetaculares, têm coloração maravilhosa –, mas nada como o diamante.

“Sempre digo que se ganhasse na loteria, sozinho, eu estaria aqui hoje, fazendo exatamente a mesma coisa.”

TV: Como equilibra vida profissional e pessoal?

MB: Eu era um trabalhador obstinado, de chegar às 6h30 no escritório e trabalhar até a hora que fosse necessário. Há mais ou menos 15 anos, coloquei na cabeça que deveria me preparar para esse momento que vivo hoje. Comecei a montar uma equipe de colaboradores que trabalham à minha volta e que me oportunizam mais tempo. Então eu não tenho mais a pressão que tive um dia. Meu sonho era ir ao cinema no meio do expediente. Hoje, tranquilamente eu me permitiria. Então essa é a mudança. E sem expor a condução dos negócios. Isso me dá liberdade para fazer o que eu quero.

TV: E o que costuma fazer em seu tempo livre?

MB: Uma das coisas mais prazerosas para mim é pegar um barco em dia de sol e viajar. E por incrível que pareça, sem postura blasé, é na Baía de Guaratuba.

TV: Aprecia artes?

MB: Cinema, música e teatro, sim. Difícil dizer o que eu prefiro, mas gosto muito de teatro, de ouvir uma bela sinfônica. Mas também adoro rock.
Que bandas de rock ouve? Gosto muito de Linkin Park. Acho que uns dois anos antes de a banda se mostrar com essa força toda de mídia eu já adorava os caras. Eu devia ter lançado eles na vida artística!

TV: Você costuma sair em Curitiba? Gosta de ir a restaurantes?

MB: Agora você pegou meu ponto fraco, que são os restaurantes. Embora eu não seja um explorador, sou um cliente dos mesmos restaurantes. Gosto muito do Nayme [eleito o melhor restaurante árabe no Prêmio TOPVIEW Gastronomia 2017] e costumo dizer que a comida árabe é para antes de ser enforcado: “Você gostaria de comer o quê?”. Eu respondo: “Eu gostaria de comida árabe”.

TV: Você dedicou sua vida à empresa. Nunca pensou em seguir outros caminhos?

MB: Sempre tive o gosto, desde adolescente, por esse trabalho. Sempre digo que se ganhasse na loteria, sozinho, eu estaria aqui hoje, fazendo exatamente a mesma coisa. Me arrepio quando falo: eu amo o varejo, especialmente nesta segmentação em que nós estamos.

[texto publicado originalmente na edição impressa número 4 do TOPVIEW Journal, agosto de 2017]

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