ESTILO CULTURA

Wearables: tecnologias para vestir

Jaqueta jeans que permite ao usuário fazer ligações e boné que muda de estampa e cor de acordo com a música são exemplos desta nova tecnologia

É mais um dia comum: visto uma jaqueta jeans, pego a bicicleta e vou para o trabalho. No caminho, alguém me liga. Ao tocar levemente em uma das mangas, atendo a chamada e a interação acontece sem que eu precise fazer mais nada. A cena descrita é fictícia, mas já é bem real para os adeptos dos wearables.

A nomenclatura tem sido usada, no Brasil e no mundo, para descrever as tecnologias que são, externa ou internamente, conectadas à internet e ao nosso corpo, como o Google Glass, o Apple Watch ou a jaqueta jeans da Levi’s feita em parceria com o Google – exemplo descrito no começo do texto.

Os wearables são dispositivos caracterizados por conter um sensor “capaz de capturar determinada informação por um movimento ou até pelo fluxo sanguíneo”. Quem explica é Immo Oliver, empresário e consultor suíço que vive no Brasil, onde cofundou várias empresas, entre elas, a Carenet Longevity – referência em integrar dados de saúde gerados por wearables, Internet das Coisas e aplicativos.

O primeiro dispositivo criado na Carenet, ainda em 2014 (ano em que a empresa foi fundada), era um clipe anexado à roupa que monitorava os movimentos do corpo e do sono. Por meio dele, o usuário conseguia descobrir quantos passos deu ao longo do dia, converter isso em uma distância exata e saber quantas calorias queimou. Esse tipo de tecnologia wearable foi o que mais emplacou por aqui – haja vista a quantidade de relógios inteligentes disponível em lojas populares. Ainda assim, segundo Immo, o Brasil engatinha neste assunto.

Wearables para quê?

Uma pesquisa realizada em 2016 pela Endeavor Partners – empresa de consultoria estratégica com grande experiência em negócios e tecnologias móveis e digitais, presente nos Estados Unidos e na Inglaterra – mostrou que a maioria dos consumidores de wearables abandona seus dispositivos cedo demais. De acordo com esse estudo, e com o próprio Immo, isso acontece porque geralmente o usuário não sabe o que fazer com tanta informação – de que me adianta, por exemplo, saber quantos passos dei ao longo do dia?

“O que as empresas voltadas à saúde estão começando a fazer é oferecer um serviço de acompanhamento que esclareça ao usuário cada informação que ele recebe pelo dispositivo”, diz. Um nicho de serviço que, segundo ele, não vai demorar a ser oferecido por planos de saúde. “Em breve você poderá acompanhar a evolução da sua cirurgia por um dispositivo desses”, prevê.

Consequentemente, para o cofundador da Carenet, é natural que empresas desse tipo não encontrem no Brasil um mercado atrativo. Enquanto lá fora existem canais de venda nas ruas com wearables de vários estilos, por aqui, você encontra pouca coisa em lojas físicas. “As empresas locais estão só começando”, pondera.

E o problema, segundo ele, não é a tecnologia ou a startup, “é a carga tributária”. Como tudo é importado, sai com um valor pouco atrativo para as pessoas – um smart watch da Fitbit, por exemplo, custa quase 200 dólares no site da Amazon norte-americana. “Dificilmente alguém vai investir um valor tão alto em um dispositivo para ‘testar’”, garante.

O mundo lá fora

Os dispositivos das categorias Lifestyle, Fitness e Medical são, respectivamente, os três mercados que mais consomem esse tipo de tecnologia, segundo dados da Vandrico Solutions Inc. – consultoria norte-americana que atualiza diariamente uma database com o registro de todos os wearables comercializados no mundo. Ainda assim, wearables não se restringem apenas à saúde.

Indústria, entretenimento e games surgem logo em seguida na listagem da Vandrico. São anéis, pulseiras, relógios, cintos e até adesivos que enviam estímulos ao cérebro para aliviar a dor; lembram mães de vacinarem seus filhos ou diminuem a intensidade da radiação no corpo – para citar alguns dos exemplos lembrados por Antônio Marcos Alberti, mestre e Ph.D. pela Unicamp, atual professor adjunto do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel).

Com experiência em engenharia elétrica e ênfase em telecomunicações, atuando principalmente em tecnologias emergentes e redes futuras, Alberti mora em Santa Rita do Sapucaí (MG), lugar conhecido como Vale da Eletrônica. Na visão dele, os wearables são reflexo dos avanços tecnológicos cada vez mais frequentes. “Essa abundância tecnológica cria uma disrupção em várias frentes, um repensar de tudo pelas empresas, como o próprio Uber, Airbnb”, explica.

Em março deste ano, Google e Levi’s, a tradicional marca de jeans, lançaram a Commuter, uma jaqueta jeans inteligente, desenvolvida especialmente para quem pedala até o trabalho. Ao tocar nas mangas, o usuário pode atender e receber ligações ou apenas conferir as horas – graças às fibras da jaqueta, que são conectadas por uma espécie de “abotoadura inteligente” ligada ao telefone. A novidade deve chegar às lojas no fim deste ano por US$ 350.

Outro projeto interessante que mostra a entrada dos wearables no mundo da moda é o que foi feito entre a companhia de moda e tecnologia londrina Studio XO e o coletivo de moda nova-iorquino VFiles. Juntos, eles lançaram uma coleção interativa durante a Nova York Fashion Week, em fevereiro, com roupas e acessórios compostos de fibra ótica. Também para o fim do ano, está previsto o início das vendas de um boné e uma mochila que permitirão ao usuário alterar as cores e os padrões em resposta à música que estiver ouvindo.

Se lá fora os wearables já assumem outro patamar e se tornam cada vez mais parte do dia a dia das pessoas, por aqui, caminhamos a passos lentos. Para Alberti, “ninguém duvida que essa abundância tecnológica vai nos conectar de todas as formas”, com roupas e implantes, por exemplo, “a questão é saber quando”.

Ele acredita na Lei dos Retornos Acelerados – uma teoria que tem por objetivo descobrir como as tecnologias evoluem e prever uma data de popularização a partir disso. “A tendência é que o poder das tecnologias dobrem a cada dois anos. Foi assim com os smartphones, por exemplo.” Quando os dispositivos wearables emplacarem, ele visualiza uma revolução semelhante à que houve com o surgimento do iPhone e iPad.

Internet das Coisas

“Segundo o MIT (Massachusetts Institute of Technology), é uma nova internet para as coisas ou com as coisas”, resume Antônio Alberti, professor do Inatel. É o nome dado a este novo momento, onde todos os objetos da nossa vida estão ou são conectados. Deve ser algo fixo, que não se mexe, diferente dos wearables, que “são um segundo passo da Internet das Coisas”. “Um estudo prevê que em 2020 existirão 50 bilhões de wearables no mundo, e cerca de 212 bilhões de objetos ligados à Internet das Coisas”, compara. Para ele, a tendência é que ela conecte objetos, no futuro, a uma distância mínima.

“Se hoje falamos em metros, será questão de centímetros e milímetros”, prevê Alberti. O caminho, segundo Immo Oliver, será integrar as soluções à roupa que você já tem. “Acredito em um futuro com wearables específicos para funções diferentes. Para esquiar, por exemplo. Uma roupa diferente, com tecnologias que me aqueçam, e um óculos capaz de monitorar velocidade, temperatura e altura”, conclui.

 

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