Conheça a marca curitibana que encantou Ronaldo Fraga
Era uma quarta-feira comum. E também não era. A artista visual Juliana Erig, de 22 anos, e o designer de produto Enzo Yassuda, de 27, procuravam um lugar onde pudessem trabalhar tranquilos, já que o ateliê deles ainda não estava pronto, e escolheram o café de uma livraria no Shopping Curitiba. Naquele mesmo 7 de outubro, um dos mais importantes estilistas brasileiros, o mineiro Ronaldo Fraga, estaria lançando seu livro Caderno de Roupas, Memórias e Croquis no mesmo lugar. Mas Juliana e Enzo nem imaginavam.
Sentaram-se em um canto e, segundos depois, um homem puxou uma cadeira perto deles. Era Ronaldo Fraga. “O Enzo disse: vai lá, se apresenta, leva nosso cartão. Mas eu travei, morri de vergonha”, conta Juliana. Trinta minutos foi o tempo que ela levou para tomar coragem e arriscar a oportunidade. Chegou, pediu licença, se apresentou, mostrou o cartão de visitas. Ronaldo, no entanto, o recusou. “Eu expliquei que aquilo ia cair em um buraco negro e eu nunca mais ia encontrá-los. Então pedi o Instagram”, descreve o estilista, em entrevista à TOP VIEW.
“Pelo canto do olho, observava que ele estava realmente entretido no nosso perfil”, conta ela. Quando Ronaldo percebeu que estava sendo observado, fez sinal com a mão para que o casal se juntasse a ele. E não poupou elogios à dupla. “Eu viajo demais, praticamente o Brasil inteiro toda semana. Quando eu ponho o pé para fora de casa já aciono minhas antenas. Foi assim que eu fiz vários amigos e conheci trabalhos lindos, como o deles. De imediato identifiquei a paixão, o extremamente lúdico, o afetuoso e o sustentável que existe no trabalho deles e também no meu”, justifica.
A essa altura o casal achou que nada poderia se igualar àquilo, até que Ronaldo perguntou se eles teriam interesse em produzir umas peças para o seu próximo desfile. Mesmo sem saber que o “próximo desfile” a que o estilista se referia era o da SPFW, dali alguns dias, Juliana e Enzo disseram sim.
E por falar em amor…
A Yë nem tinha site quando Enzo e Juliana conheceram Ronaldo naquele café. “Eu sempre estou com alguma das bolsas, justo naquele dia eu não estava”, lembra a artista. Então, baseado em quê Ronaldo Fraga confiou um pedaço da sua coleção ao casal? “Na coragem deles”, responde o estilista mineiro. “Quando falei que seria para dali alguns dias, eles toparam. E em meio a uma geração que não arrisca por medo da frustração, quando encontro uma moçada que faz e acontece… Admiro gente assim, que não tem medo de trabalhar”.
Ainda no café da livraria, com os esboços dele em uma folha de papel, começou essa parceria digna de contos de fada. Em 10 dias, a dupla teria que produzir três peças para o desfile. “Ele comentou que estava abrindo um espaço novo e imaginamos que teria um desfile de inauguração e as peças seriam usadas aí”, lembra Juliana. Dois dias antes da SPFW, realizada entre 18 e 23 de outubro, eles descobriram que as três bolsas desfilariam com os looks da coleção Inverno 2016 do estilista.
São dois modelos: o primeiro, feito em madeira, tem formato de coração; o segundo é uma mochila pequena também em couro e madeira, com o acréscimo de jacquard. Não demorou muito para as bolsas da Yë ganharem destaque nacional em publicações como “os acessórios mais descolados da SPFW”, para citar apenas uma lembrança.
Sustentavelmente únicas
Yë é a junção das iniciais do sobrenome dele (Yassuda) e dela (Erig), e também representa a união entre a criatividade de Enzo e a habilidade de Juliana. Ou seria o contrário? “Ele trabalha melhor com a madeira e eu mando bem no acabamento, nos detalhes” resume ela.
Fato é que a marca nasceu há cerca de um ano, no dia em que – ironicamente – ela terminaria o namoro com Enzo. “Estava prestes a ir embora [para os Estados Unidos] quando, também em uma livraria, decidimos levar a sério o desejo de fazer bolsas a partir da madeira”, conta.
Há seis meses, a dupla tem investido com força na produção. E desde o início a matéria-prima é a mesma: refugos de madeira e de couro que iriam para o lixo. É esse material, inclusive, que diferencia o trabalho deles. “A gente busca essa conexão com uma peça, não é mais só um objeto descartável”, diz Juliana. “E o fato de elas serem feitas à mão”, emenda. Nenhuma peça é igual à outra. E nem é intenção que sejam.
Eles começaram produzindo suspensórios de couro. Viram que dava certo e fizeram o primeiro modelo de bolsa, a Yume (que significa sonho, em japonês). “Nada mais justo, afinal, com ela a gente realizou o nosso sonho”, justifica Juliana. De lá para cá, além da parceria com Ronaldo Fraga – que é recente, assim como toda a história da marca – eles participam de feiras, eventos culturais e bazares.
A intenção é começar, em breve, a seriar cada peça e já no próximo inverno investir em uma coleção completa, com seis a oito bolsas. Para o verão, estão preparando modelos coloridos, com retalhos de couros. Mais além ainda, pensam em abrir uma loja própria junto ao ateliê – que está sendo montado na antiga marcenaria do avô de Juliana. “Tudo aconteceu muito rápido, de repente alguém de fora olhou para o nosso trabalho e reconheceu algo bom. Talvez demorasse um ano ou mais para a gente conseguir essa visibilidade” especula.
Será? Para Ronaldo Fraga, não. “Se essa parceria servir como referência para eles no mercado, ótimo! Mas o que vai fazer com que eles cresçam é a essa paixão e dedicação deles. É o que eles já fazem, essa busca por qualidade e comprometimento”, garante.
Serviço
www.yeupcyclingwear.com/
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yassuda.erig@gmail.com