Aleph Zero e Rosenbaum transformam escola do Tocantins
Os arquitetos Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, do escritório curitibano Aleph Zero, participaram recentemente de um desafio audacioso e bem especial: mergulhar na zona rural de Formoso de Araguaia, no Tocantins, junto com o designer Marcelo Rosenbaum, para conhecer a escola rural Canuanã (que funciona em regime de internato) e propor um modelo de moradia aos 800 alunos que vivem lá. O convite foifeito pela Fundação Bradesco, que mantém a instituição há quase 40 anos.
O ponto de partida foi ouvir as crianças que, pela falta de conforto dos pavilhões, não enxergavam o lugar como casa. O grande desafio de Aleph Zero e Rosenbaum foi mapear os elementos com potencial de gerar essa identificação, repassado às crianças em forma de atividades que permearam todo o currículo escolar no mês seguinte.
O material, composto por textos, pinturas, encenações e dinâmicas foram analisadas pela equipe 30 dias depois, com o intuito de identificar um fator universal que faltava para que Canuanã fosse e tivesse cara e conforto de casa.
O dilema dos dormitórios não tardou a aparecer. “Em um exercício de ocupação do espaço a partir do corpo, afloraram o tamanho ideal do quarto e a quantidade de beliches: três, em vez de 20”, conta Rosenbaum. “O mais impressionante é que, nessa brincadeira, todas as conformações de planta eram muito semelhantes”, diz.
Assim nasceu a modulação dos novos dormitórios, bem como a forma de agrupá-los, em volta de três jardins. “Mostramos referências de espaços públicos, como praças, pátios, a oca indígena… E as crianças escolheram assim”.
Os resultados foram positivos logo no primeiro semestre letivo. “Eles estão muito mais tranquilos, felizes pela privacidade que agora têm no quarto e pelas possibilidades de convivência nas áreas coletivas. Quando surgem atritos, eles administram melhor”, conta Ricardo Rehder Garcia de Figueiredo, diretor-geral da escola.
Por conta dos resultados surpreendentes, Rosenbaum foi convocado novamente para desenhar um novo refeitório, os alojamentos dos professores e o plano diretor para os próximos 30 anos da Canuanã – que não se contenta com isso. Deseja formar gerações e gerações dos filhos dessa terra única, incrustada entre a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.
