SELF COMPORTAMENTO

Luise Takashina e o desafio das mulheres em 2018

Ao equilibrar (e muito bem) seus papéis de editora-chefe e mãe, a jornalista ainda consegue acompanhar os jogos do seu time do coração e almoçar com a família

Nós entramos juntas na TOPVIEW, no dia 15 de janeiro de 2013. E, apesar dos 11 anos que nos separam e das tantas circunstâncias próprias da idade que nos distinguem, tínhamos algo forte em comum: era o nosso primeiro emprego jornalístico em Curitiba.

Com uma carreira construída no setor de projetos infantojuvenis da Editora Abril, em São Paulo – cidade que a acolheu por 10 anos –, a editora-chefe da TOPVIEW, Luise Takashina, era mãe antes mesmo de ter a sua Emília, hoje com três anos.

“Vejo algumas mães que se queixam por ter deixado a carreira de lado. Eu não tenho essa sensação.”

Primeiro, tirando dúvidas enviadas pelos leitores mirins à seção de curiosidades da revista Recreio. Depois, aconselhando leitoras adolescentes e pré-adolescentes na revista teen Witch (publicação da Disney italiana que chegou até a ser transformada em programa de televisão no Brasil): lá, ela conversava com meninas do Brasil todo sobre depilação, como lidar com o divórcio dos pais, a primeira ida ao ginecologista… Na Capricho, como editora de comportamento da revista, falava sobre polêmicas comuns entre os jovens, como bullying e drogas.

“Tive uma trajetória profissional incrível em São Paulo e ela me satisfez a ponto de eu voltar sem dúvidas, sem nada em aberto.”

Ao conhecer Luise, foi natural me sentir abraçada pelo instinto maternal dela, que pegava no meu pé pela salada deixada no prato, pelos caras que eu conhecia e pelas decisões que eu tomava. Nesta entrevista, essa típica taurina fala sobre como se viu fora da zona de conforto inúmeras vezes em 2017, maternidade, futebol e futuro.

A TOPVIEW foi o seu primeiro emprego em Curitiba. Mas e em São Paulo? Como foi o caminho até lá?

Logo que me formei, em 2000, fui para São Paulo fazer o Curso Abril de Jornalismo. Fiquei três semanas e voltei pra Curitiba. Quando fiz o curso, eu conheci a Recreio e me apaixonei pelo trabalho que eles faziam na revista. Me coloquei à disposição e, alguns meses depois, me chamaram para cobrir férias por dois meses. Aí, retornei a São Paulo e fiquei uns dois/três anos nesse esquema de frila. Teve um esforço grande desses meus primeiros chefes para que eu permanecesse. Acabei sendo contratada e fiquei por lá, lugar onde me tornei jornalista.

Em São Paulo, você passou por publicações como Witch, Loveteen, Recreio e Capricho. Todas elas tratam de um tipo muito específico de jornalismo. Nunca sentiu vontade ou necessidade de passar por hardnews, por exemplo?

Nunca. Na verdade, quando fiz faculdade, eu queria ser repórter esportiva, consumia muito esse tipo de conteúdo, lia a Placar [revista especializada em esportes] e ainda sou corinthiana “roxa”. Tive a sorte de pegar, em 2001, uma época de um jornalismo muito nichado, voltado para ciência, adolescentes, mulher, qualidade de vida. E me encontrei ali. Acho que rola um preconceito errado com quem trabalha com softnews. A responsabilidade em falar sobre bullying, por exemplo, para um monte de meninas é gigantesca. De soft não tem nada. Ao mesmo tempo, o hardnews banalizou muito com Facebook e outras redes sociais. Se tornou sensacionalista. O mundo está tão pesado que, cada vez mais, as pessoas buscam ler sobre coisas amenas, tranquilas.

Mas você também passou por outros projetos mais “adultos” na Abril, não?

Sim. Trabalhando na Witch, eu me vi muito envolvida também com moda e pensei em fazer uma especialização no assunto. Conversei com meu então diretor de redação e ele disse “não, você vai fazer o MBA em Marketing que eu fiz”. E mesmo um pouco assustada com essa decisão, estudei por dois anos na ESPM e foi um curso bem bom. Lembro que meus amigos acharam estranho, como se eu estivesse indo “pro lado negro da força”, mas hoje vejo que foi muito bom. E foi por fazer esse curso que fui convidada a ir para a área de projetos customizados da Abril, numa época em que esse nicho apenas engatinhava. Eram conteúdos pagos de marcas com Petrobras, O Boticário e Avon sendo produzidos por jornalistas. Foi meu último trabalho na Abril. Saí de lá em 2011.

E por que voltou a Curitiba?

Eu sei que poderia ter ficado mais em São Paulo, até porque a área na qual eu estava é uma das que sobrevive hoje na Abril. Mas quis ficar mais perto da família, já estava com o Lu [Luciano, seu marido, que conheceu em São Paulo], queria ter filho e em Curitiba. Não aconteceu algo específico, foi um passo natural, uma mudança de vida mesmo. Talvez eu seja uma curitibana bairrista [risos]. Voltei e fiquei fazendo frila, era uma época que ainda tinha bastante trabalho nesse formato, foi quase como um ano sabático. Já tinha 10 anos de profissão e precisava entender quem eu tinha me tornado e o que queria fazer a partir dali.

Já conhecia a TOPVIEW?

Eu sabia que a revista existia, até porque, fazendo frila pra Vejinha [Guia Veja, Comer & Beber Curitiba], cheguei a entrar em contato com a Cintia [Peixoto, ex-publisher da TOPVIEW] para convidá-la a ser jurada. Mas não conhecia. Quando a Alice Duarte, editora-chefe na época, me chamou, achei que seria legal trabalhar em uma revista local e que fala sobre mercado de luxo. E lembro de ficar surpresa com a qualidade da edição, do jornalismo, de como tudo era feito. Entrei feliz.

E nessa mesma época você também comprou a sua casa, né? Como foi se reaproximar da sua família? Vocês já eram bem próximos, né?

Sempre. Falava com a minha mãe quase todos os dias. Com a minha irmã, toda semana. E, na verdade, eles ficaram até meio tristes quando voltei, pois adoravam me visitar em São Paulo, passear, pegar metrô. Mas tudo aconteceu na hora certa. Tive uma trajetória profissional incrível em São Paulo e ela me satisfez a ponto de eu voltar sem dúvidas, sem nada em aberto. Um mês depois de entrar na TOPVIEW compramos o apartamento e hoje eu vejo que consigo equilibrar o pessoal e o profissional de uma forma que não conseguiria lá.

Aí veio a Emília, sua filha… Que tipo de mãe você é para ela?

Sou brava. Dou bastante ordem, sou bem general. Mas é que eu tenho um pouco de medo de ela não ter limites. Insisto bastante que tem hora pra tudo, mas esses dias tive uma crise existencial, porque na escola ela dá ordem para os amigos, para as bonecas. Reflexo meu. Mas também não me sinto tão culpada. Já fui mais. Talvez o fato de ter casado e tido filho mais tarde [aos 35 anos] tenha me feito uma mãe menos ansiosa. Vejo algumas mães que se queixam por ter deixado a carreira de lado. Eu não tenho essa sensação. O que eu mais penso sobre a Emília, por exemplo, é que talvez eu não seja avó. Ela pode não querer ter um relacionamento. Ela pode namorar meninas. Já tento imaginar que esse modelo clássico que eu vivo talvez não seja o dela, ou talvez seja, porque é o que ela vê. Não sei.

“Logo que a Emília nasceu, eu pensava que seria ótimo ficar em casa só com ela. Hoje em dia, penso diferente. Que bom que eu tenho a minha filha e também um trabalho legal.”

Mesmo tendo uma prima [Clara, 4 anos], que acaba preenchendo um papel de irmã, você acha que faz falta um irmão para a Emília?

Eu tenho bem um “mixed feelings” sobre isso. Tem horas em que acho que seria incrível ter outro filho, um irmão mais próximo [ela já tem a Ana Clara, 20, que vive em Jundiaí e é fruto do primeiro relacionamento de Luciano], mas sou bem racional e prática também. Ter filho é caro, exige tempo e dedicação. Não sei se estaria disposta a passar por tudo isso de novo. Penso em adotar com a mesma frequência com que penso em engravidar.

Você falou que é brava com ela. Mas não dá para te imaginar brava. Você é tão serena na redação…

Sou muito mais ansiosa do que aparento. Tudo é questão de adaptação. Tem dias em que fico desesperada para ir à redação, mas não tenho com quem deixar a Emília e preciso entender que vou chegar e sair mais tarde [da TOPVIEW]. Demorei pra entender que eu precisava me adequar. Que sofrer com isso não muda nada. Logo que a Emília nasceu, eu pensava que seria ótimo ficar em casa só com ela. Hoje em dia, penso diferente. Que bom que eu tenho a minha filha e também um trabalho legal.

Falando em trabalho, você também é super envolvida com gastronomia, um pouco pelo trabalho da sua irmã [Beatrice Takashina, à frente do Bar Jacobina e do Carmina Bistrô]. Nunca pensou em trabalhar com ela?

Esse é o universo dela. O que eu gosto mesmo é de comer bem, conhecer novos lugares. Muita coisa que eu conheço é por conta dela e do meu marido, que é quem cozinha lá em casa. Eu nunca gostei de cozinhar.

A família no Bar Jacobina, ponto de encontro para muitas refeições. “[Em 2018,] as pessoas estão melhores, mais pré-dispostas a agir, a sair da inércia e dizer ‘vamos lá, vamos fazer’.”

Em 2017, todos nós, de alguma forma, saímos das nossas zonas de conforto com as mudanças na TOPVIEW. O que você traz desse ano?

Antes, eu tinha uma função muito clara aqui, de produzir conteúdo. Hoje, sinto que faço tudo e acho isso legal. Faço texto, mas também ajudo a pensar em evento, em produto, em diversas áreas. E, na verdade, essa é a nova função do produtor de conteúdo: a gente não produz só texto, mas informação em outros formatos. Meu pai, mais espiritual, sempre me disse que tenho uma boa intuição e devo confiar nela. Devo dizer que ele tem tido razão. Acho que o mais legal do ano que passou foi ver você e a Yasmin [Taketani, editora de impresso]. Ver que eu tomei a decisão certa, sabe? Pelo desempenho de vocês duas, como conduzem tudo com maturidade. Tenho orgulho da decisão que tomei ao torná-las editoras. E acho que 2018 será difícil, mas bem melhor que 2017. As pessoas estão melhores, mais pré-dispostas a agir, a sair da inércia e dizer “vamos lá, vamos fazer”.

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