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FICBIC 2017 tem curadoria de filmes “para refletir” que flertam com a realidade brasileira

O Festival de Cinema da Bienal de Curitiba traz mais de 100 curtas e longas que não apenas encantam aos olhos, mas também causam algum tipo de reflexão

Os conflitos pessoais entre filha (de esquerda) e pai (ex-engenheiro militar). A discussão sobre o papel da imprensa na espetacularização do privado. Representação étnica, questões de gênero, dos idosos, das mulheres – mas “sem um tom panfletário”. São algumas das muitas temáticas trazidas pelo Festival de Cinema da Bienal de Curitiba (FICBIC) 2017 que começa dia 9 e segue até 19 de novembro em quatro espaços da cidade.

Dividido em cinco circuitos – Brasileiro, Clássico, Curto-circuito (infanto-juvenil), Diretor Homenageado, Mundial e Universitário – o FICBIC 2017 é “uma mostra informativa que tem por objetivo fazer um recorte da produção contemporânea tentando mostrar desde a novíssima geração até diretores bem estabelecidos”, como explica Paulo Camargo, curador do Circuito Brasileiro.

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Mais de 100 filmes serão exibidos. O que eles têm em comum? O poder da reflexão. “A curadoria deste ano traz filmes que estão bem dentro dessa inquietação na qual o país vive”, explica Denize Araújo, também curadora do Circuito Brasileiro, ao lado de Paulo. “São obras artísticas com um teor político inerente”, acrescenta o jornalista.

O que assistir no Circuito Brasileiro do FICBIC 2017

A começar pelo longa-metragem de abertura, Arábia (2017), dos jovens diretores brasileiros Affonso Uchôa e João Dumans. O filme foi exibido pela primeira vez no International Film Festival Rotterdam, na Holanda, passou por 17 festivais e foi o grande vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, onde conquistou quatro prêmios: melhor filme, ator (Aristides de Sousa), trilha sonora e montagem. Também recebeu o Prêmio Abraccine, da Associação de Brasileira de Críticos de Cinema.

Arábia foi o grande vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

“É um filme que se alinha bastante com outros títulos da mostra principal. Ele aborda a vida de um personagem aparentemente anônimo cuja história vai sendo reconstituída por um diário que é encontrado por outro personagem. A vida daquele é recontada por meio da sua jornada de trabalho, que passa pelos mais diversos tipos de ocupação, como a maior parte dos brasileiros”, explica Paulo Camargo.

Outro longa que ele destaca no Circuito Brasileiro é Pela Janela (Caroline Leone, 2017). “Na mesma linha do Arábia. É um filme que fala de uma operária de 65 anos que, ao se aposentar, se vê diante de um nada, o que acontece com muitos brasileiros que vivenciam esse fim da vida profissional”, conta Paulo. Ao viajar para Buenos Aires por sugestão do irmão, a personagem tem uma espécie de epifania, de autodescobertas e percepções pessoais. “Os dois filmes têm muito diálogo. Cenas fortes”, adianta o curador.

Cena de Pela Janela, longa que segue o mesmo ritmo de Arábia.

Denize adianta que os curtas possuem ainda mais esse caráter “social/político”. Entre eles, ela destaca Cabelo Bom (Claudia Alves e Swahili Vidal Moreira, 2017), que fala sobre a origem dos cabelos da raça negra, auto aceitação e aceitação ao outro, “forte, interessante, ganhou o Kikito de Ouro – Prêmio Especial do Júri do Festival de Gramado 2017″; Festejo Muito Especial, que reproduz o título do artigo escrito por Paulo Emilio Salles Gomes em 1977 e revisita os filmes citados no texto, “um filme literário, mais poético, fala muito de memória, de cinema, do que a gente teria que recordar do passado”; e o (quase) documentário Quem matou Eloá? que questiona a responsabilidade da mídia no desfecho do crime que chocou o paí em 2008. “Alguns são documentários híbridos, outros são ficcionais. Mas mesmo assim estão expondo as problemáticas do país”, garante Denize.

Quem matou Eloá? questiona a responsabilidade da mídia no desfecho do crime que chocou o paí em 2008.

Outra preocupação constante dos curadores nessas 11 edições de FICBIC é trazer algumas estreias. É o caso de Construindo Pontes (2017), documentário quase autobiográfico da cineasta curitibana Heloísa Passos, importante diretora de fotografia do cinema brasileiro (atuando em longas como Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo e Lixo Extraordinário), muito premiada e membro da Academia de Artes e Ciência Cinematográfica de Hollywood. “É um nome local muito importante que faz sua estreia com esse longa muito íntimo e pessoal, que trata da relação dela com o pai, um engenheiro daqui de Curitiba que teve o auge da sua carreira durante a ditadura. Ao longo da vida eles sempre travaram uma relação de afeto e discordância. E esse documentário é uma espécie de ajuste de contas, de conversa efetiva”, revela Paulo.

E tem muito mais no FICBIC 2017

Durante os 10 dias de festival é possível prestigiar também os curtas e longas que integram os circuitos Clássico, Mundial, Universitário, Diretor Homenageado e Curto-Circuito. Eles serão exibidos no Espaço Itaú de Cinema – Shopping Crystal, no Cine Guarani – Portão Cultural, no Cinepensamento – SESC Paço da Liberdade e na Cinemateca de Curitiba. Todas as exibições são gratuitas, exceto as que acontecem no Espaço Itaú de Cinema, onde a entrada custa R$ 6 e R$ 3.

SERVIÇO

A programação completa do FICBIC 2017 e o local onde será exibido cada filme podem ser encontrados no site oficial ou no Facebook

Espaço Itaú de Cinema – Shopping Crystal_Rua Comendador Araújo, 731, no Batel 

Cine Guarani – Portão Cultural_República Argentina, 3430, no Portão

Cinepensamento – SESC Paço da Liberdade_Praça Generoso Marques, 189, Centro 

Cinemateca de Curitiba_Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174

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