Os vinhos de preços sensatos do Languedoc

O sul da França desde a fronteira da Itália até a Espanha é denominado de Midi, porque é no sul que o sol culmina ao meio-dia. O Midi é dividido ao meio pelo rio Ródano, Rhône em francês. Foi seguindo o Rhône que os romanos levaram sua cultura aos celtas, como nos contam Julio Cesar e Asterix. Ensinavam a fazer vinho e depois o trocavam por escravos da aldeia vizinha, o que levou um rei celta da época a dizer: “Não  quero saber nem de romanos, nem de seus vinhos”.

A região à esquerda do Rhône é a Provence. À direita fica o Languedoc. Quando o pulgão Phyloxera destruiu os vinhedos franceses, havia duas propostas de combate: enxerto com parreiras americanas, o que acabou prevalecendo, ou irrigar pelo pé, afogando o pulgão, como aconteceu no Chile. Como se temia  que o enxerto alterasse a qualidade do vinho, a corrente pró afogamento plantou vinhedos nas regiões planas e argilosas do sul, onde era mais barato manter o pé da parreira submerso.

Em tempos recentes uma pessoa que tinha uma chácara no Languedoc foi procurada por um geólogo que disse que aquela propriedade poderia fazer um dos melhores vinhos da França. Uma lente de arenito, formada por um maremoto há milhões de anos, asseguraria uma drenagem perfeita. Assim surgiu o Mas de Daumas Gassac que Hugh Johnson definiu como o Grand Cru do Midi. Logo outros produtores — como Domaine de Cazes, Chapoutier, Domaine d’Aussières (Lafite Rothschild) — passaram a procurar jazidas permeáveis no Languedoc.

Agora, frustrado pelos preços dos vinhos inflacionados pelos chineses, procurei vinhos franceses bons como os de antigamente, mas a preços justos. Fui logo ao Mas de Daumas Gassac que, obviamente, satisfaz a demanda por qualidade. Mas seu preço — R$ 360 —, embora justo, estava acima da minha meta. Acabei provando o Bila-Haut do Chapoutier. Excelente, nota 91 por Robert Parker. A seguir, fui a Alter Cazes e ao potente Canon du Marechal. Excelentes.

Finalmente cheguei ao Domaine l’Ostal Cazes (da família Cazes,  proprietária do Château Lynch Bages),  que fica em Minervois, AOC à volta de Nice,  na Montanha Negra. Esse terroir ficou conhecido nos tempos romanos como cella vinaria  (adega de vinhos em latim). Seu  principal  vinhedo  La Livinières é citado por Cícero.

A postos, a equipe do Lynch Bages produziu duas joias: o Estibals Minervois e o Grand Vin La Livinières Minervois, com preços surpreendentes para sua qualidade. Assemblages de Châteauneuf – Syrah, Grenache, Cinsault, não apenas ótimos, mas exuberantes. E assim chegamos a grandes vinhos franceses que podemos tomar sem a sanção do preço. Pelo menos enquanto os chineses não chegam.

 

Luiz Groff é enófilo e proprietário da loja de vinhos In Vino Veritas, representante da importadora Mistral em Curitiba.

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