Hot com classe

Edição de Newton Gomes Rocha Jr., com reportagem de Yasmin Taketani

Nos Estados Unidos do pós-guerra, os hot rods tinham um significado diferente do atual: eram carros modificados para corrida, sobretudo por jovens ávidos de adrenalina. Hoje, esses modelos antigos (dos anos 1920 aos 1960) consolidaram-se enquanto artigo de colecionador – um item apreciado pelos espectadores e uma paixão dos proprietários.

O curitibano Cleverson Moraes – ou Nenê, como é conhecido – é a perfeita personificação da trajetória dos hot rods, veículos antigos com estética customizada impecável. Já aos 14 anos, Nenê ganhou seu primeiro modelo old school (um Dodge), e, seis anos depois, tornou-se piloto de arrancada. À medida que passou a construir seus próprios hots, o mecânico converteu-se em colecionador – até fundar sua empresa, a Nene NHRA, em 2010. “Juntei o útil ao agradável”, lembra o curitibano, que, aos 39 anos, preserva o mesmo espírito do adolescente apaixonado. “Faço o que amo.”

A oficina onde tudo acontece

Com uma equipe de seis funcionários, a Nene Hot Rod Assembly é referência em chassi e suspensão para carros antigos, sobretudo por pensar a estrutura mecânica dos veículos com apuro estético. Essa especialidade, pode-se dizer, é um nicho dentro de outro nicho, já que os hot rods, apesar de chamarem atenção instantaneamente, não são um artigo popular. Homens na faixa dos 40 anos, com forte poder aquisitivo, são maioria no meio. Eles estão dispostos a investir tempo e dinheiro no hobby, que pode ser tanto para uso cotidiano quanto exclusivamente para exposição. “Um projeto de qualidade para montar um hot rod começa em R$ 100 mil, e um bom prazo é de um ano – daí, o céu é o limite”, calcula Nenê. O mercado, aliás, está crescendo. É o que o mecânico observa desde cinco anos atrás, tanto no nível dos profissionais e dos produtos disponíveis, quanto em relação ao conhecimento dos proprietários.

 

De parar o trânsito: o Ford 34 customizado pelo próprio Nenê
De parar o trânsito: o Ford 34 customizado pelo próprio Nenê

 

JUVENTUDE ETERNA
“Para o trânsito”, diz Nenê com orgulho sobre a reação geral quando está em seus Fords. “É gente tirando foto, puxando o celular, elogiando.” Além de emprestar o apelido à empresa, Nenê é seu principal garoto-propaganda. Literalmente, ele vive seu trabalho. Nem mesmo no primeiro dia de 2015 o mecânico abriu mão de estar perto de seus dois hots particulares: o Ford 34 dragster 800 CV verde que foi capa de uma revista especializada no Brasil e de um site norte-americano, e o Ford de 1923, conhecido como T-bucket, em marrom e creme. Aliás, outros três estão a caminho. “Quem tem um hot, não tem apenas um – tem uma coleção”, resume, citando clientes com mais de 15 modelos.

 

 

Afinal, um dos atrativos dessa atividade é que nenhum hot é igual ao outro: depois de aprimorar a mecânica, é possível rebaixar o carro, colocar uma roda mais larga ou encomendar uma pintura personalizada. Mais do que diversão, para os aficionados, trata-se de uma ciência. “A mulher diz: ‘Ah, o sapato não está combinando com a bolsa’. Os homens não entendem isso. Mas para carro, a roda tem que combinar com a cor, com os tipos de cromado, com a altura”, compara.

Para além da estética, se antes os hot rods eram símbolo de rebeldia e liberdade, hoje eles representam o sonho de consumo da juventude de cada um – de preferência ao som de Elvis Presley, Chuck Berry ou Eric Clapton, como recomenda o homem por trás da Nene NHRA.

 

 

Deixe um comentário