Dieta detox no corpo e na alma

Resolvi me dar a oportunidade de não só me desintoxicar dos excessos da alimentação, aos quais um chef acaba cedendo no dia a dia, mas também de viver uma introspecção necessária a todos. Sem TV e nem celular. Fui para o spa Lapinha, na Lapa (PR), um dos melhores destinos de cura do mundo. Quis vivenciar o que eu pregava quando era chef deste spa e a dieta detox dos hóspedes: vegetariana, naturista (sem produtos industrializados), sem café, carne,  sem glúten e sem lactose.

Nessa semana de restrições alimentares e calóricas, percebi que o maior assunto do cotidiano de quem tem a privação da comida é a própria comida. Parece irônico, mas achei fantástico perceber que quando as pessoas se privam dela, começam a valorizá-la mais, e a acessar as memórias gustativas. Para alguns, por exemplo, os pedaços de tofu que acompanham a sopa viram deliciosos pedaços de frangos grelhados. A abóbora assada com mel e canela se torna uma apetitosa costelinha de porco assada com molho barbecue.

Em um passeio até a horta, veio a inspiração e a vontade de ter um fogão e uma wok naquele momento. Imaginei vários pratos saudáveis, como um ratatouille orgânico, com aqueles pimentões, berinjelas, pimentas biquinho daquele arbusto que eu ajudei a plantar um dia. E com outras ervas como tomilho, manjericão, basílico… Ali comecei a relembrar momentos importantes, como quando conheci a mestre chef Mara Salles e, num papo descontraído, ela me mostrou onde brotavam as beldroegas.  A partir de então, descobri e me interessei pela alimentação que utiliza as PANC’s (plantas não convencionais).

Voltar ao Lapinha me trouxe, além de nostalgia, a lição de que o simples é sofisticado. Existe uma diferença entre comer brócolis ao vapor sem estar com muita fome e degustar o brócolis al dente mastigando devagar 40 vezes como os médicos indicam. Geralmente comemos por impulsões psicológicas, como alegria, tristeza, e não por estar realmente com fome. É impressionante como os sabores se revelam quando comemos no horário certo, com fome e no silêncio. Devemos reeducar nosso gosto, lembrar o sabor primário dos alimentos saudáveis. Não me lembro da última vez em que comi um prato de sopa com tanta vontade e até o final. E o mais incrível, me senti saciado.

Agora, volto à realidade do meu restaurante Expedito, ainda mais convicto da valorização por um alimento justo e saudável – menos manipulado e industrializado, com pouco sal e açúcar e orgânico – e da necessidade de respeitar realmente o alimento como um ser vivo, gerador de um combustível para o corpo e para a alma.

Está começando o ano, e você também pode fazer escolhas melhores. Isso não significa abraçar radicalismos, e sim ter o alimento como um agente transformador da vida.

 

Reinhard Pfeiffer é especializado em comida ovo-lacto-vegetariana e chef do restaurante Expedito, na Lapa

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