Com Letícia de Campos Costa, o título de miss atingiu um novo patamar
Há dois anos, Letícia de Campos Costa fazia testes para um desfile de moda. Os 172 centímetros de altura e os 52 quilos, acompanhados de uma beleza que transita entre o exotismo e a provocação, fizeram-na finalista. O golpe baixo veio na sequência, quando o estilista disse não saber o que fazer com “aquele cabelo” afrovolumoso imponente. “Começaram a rir. Não me entregaram o contrato. Estava fora do desfile”, lembra a modelo.
Não sabia o estilista que, no ano passado, aos 21, Letícia seria eleita Miss Curitiba. Com black power e tudo. Foi a primeira vez que a “capital mais europeia do país”, como ainda se brada, elegeu uma mulher negra como seu símbolo de beleza feminino.
O convite aconteceu no shopping, entre o milkshake e o cinema: “Já pensou em participar de um concurso de miss?”. Letícia dedicou os dias seguintes à pesquisa. Estudante do terceiro ano de Jornalismo na Uninter, fuçou as histórias dos últimos concursos da cidade. Batata: todas eram brancas de cabelo lambido. “Aí, me questionei: o que vou fazer lá? Representar quem eu sou, quem muita gente é”, diz a moça, citando a rapper Karol Conka, parceira do empoderamento.
Não lhe fogem à memória os primeiros passos na carreira, como o emprego de recepcionista, que engoliu para trabalhar em uma agência de modelos. Mas, Letícia, tudo isso para ser julgada? “Não é só a aparência que conta”, rebate. “É preciso ter muita coragem para colocar um biquíni na frente de jurados. É preciso estar segura e feliz consigo mesma. Ter a certeza de ser quem você é. Eu só penso nisso quando desfilo.”
*Matéria escrita por Cristiano Castilho e publicada originalmente na edição 206 da revista TOPVIEW.